Meio ambiente

quarta-feira, outubro 26, 2011

Sauim-de-Manaus


Saguinus bicolor (Spix, 1823)


NOME POPULAR: Sauim-de-coleira; Sauim-de-Manaus;  
Sauim-de-duas-cores e Sauim (AM)
SINONÍMIAS: Saguinus bicolor bicolor
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Primates
FAMÍLIA: Callitrichidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: não consta
Anexos da CITES: Anexo I


CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): CR
Brasil (Biodiversitas, 2002): CR – A2acde

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

  Saguinus bicolor é um animal esbelto, pesando em torno de 450 a 500 g quando adulto e seu corpo mede cerca de 28 a 32 cm de comprimento, com uma cauda fina de aproximadamente 38 a 42 cm. Os sauins formam grupos entre dois e 12 indivíduos, sendo mais comuns grupos entre cinco e oito (Vidal, 2003). Eventualmente, são observados animais solitários (tanto machos como fêmeas). A fêmea reprodutiva do grupo pode dar à luz um ou dois filhotes (gêmeos), duas vezes por ano, que após algumas semanas passam a ser cuidados e carregados por todos os membros do grupo. Os filhotes têm crescimento rápido, podendo atingir o peso de adulto em pouco mais de um ano. A dieta principal do sauim-de-coleira é composta de frutos (Egler, 1992) e invertebrados (basicamente insetos), mas também pequenos vertebrados (anfíbios, lagartos e filhotes de aves), néctar e goma. Esses primatas ocupam ambientes de floresta primária, floresta secundária (capoeira), campinaranas e áreas antropizadas, como pomares e plantações arbóreas e arbustivas adjacentes a florestas naturais, entre 40 e 150 m de altitude. Suportam bem a alteração de matas primárias e a fragmentação, desde que não atinjam extremos de isolamento ou degradação da cobertura vegetal, tanto que nessas áreas as densidades populacionais são maiores que em matas primárias e contínuas. Entretanto, podem apresentar problemas genéticos e ecológicos. A área de vida é bastante variável, sendo estimada entre 12 (Egler, 1986) e 35 ha (M. Gordo, obs. pess.) em áreas fragmentadas/alteradas e cerca de 110 ha em mata primária. Possuem atividade diurna, entre 6h30 e 16h30, aproximadamente, sendo mais intensa no período da manhã. Costumam abrigar-se para dormir em emaranhados de cipó e na base das folhas de palmeiras (inajá e buriti, principalmente), mais raramente em ocos de árvores. Possuem comportamento territorial extremamente acentuado, podendo ocorrer confrontos físicos violentos. Entretanto, entre grupos irmãos (provenientes da separação de um único grupo anterior), esse comportamento pode não ocorrer, chegando os grupos a se unirem temporariamente. Por outro lado, interações agonísticas entre indivíduos de um mesmo grupo nunca foram relatadas.

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA 

  A localidade-tipo situa-se nas proximidades da vila do rio Negro (= Manaus), barra do rio Negro, Amazonas. Os limites da distribuição foram determinados como sendo os rios Cuieiras e Negro a oeste; rios Negro e Amazonas ao sul; ao norte, uma linha imaginária no sentido leste-oeste, passando pelo km 30 da BR 174; a leste, a cidade de Itacoatiara, margem esquerda do rio Urubu (Ayres et al., 1980; Ayres et al., 1982; Egler, 1983). No sentido norte-sul, estendia-se por aproximadamente 50 km do rio Amazonas e no sentido leste-oeste por cerca de 220 km do rio Cuieras, até as imediações da cidade de Itacoatiara. Segundo Subirá (1998), os limites atuais da distribuição foram reduzidos (principalmente a nordeste-leste). A oeste e ao sul, os limites são os mesmos, enquanto o limite norte é uma linha imaginária no sentido leste-oeste, passando pelas campinaranas na margem esquerda do rio Cuieras (M. Gordo, obs. pess.), pelo km 35 da BR 174, pelos ramais Novo Milênio e ZF7, no município de Rio Preto da Eva (M. Gordo, obs. pess.), e a leste o rio Urubu, na altura do km 183 da rodovia AM 010. 
  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 

  Dentro da distribuição geográfica de S. bicolor, estimada em 750.000 ha, as Unidades de Conservação estão restritas às proximidades da cidade de Manaus (AM) e região oeste, sendo de tamanhos e categorias inadequados à conservação da espécie. PM do Mindu, PE Sumaúma, REVISE Sauim Castanheiras, REDES do Tupé, APA Margem Esquerda do Rio Negro – Setor Tarumã Açu / Tarumã Mirim e parte do PE do Rio Negro (AM). 
  • PRINCIPAIS AMEAÇAS

  As maiores ameaças à espécie em toda a sua distribuição geográfica, que é bastante restrita, são o desmatamento e a fragmentação das florestas, principalmente nas proximidades de Manaus (Egler, 1993; Santos, 2005) e ao longo das estradas. Existe a hipótese de haver competição entre S. bicolor e S. midas ao longo dos extremos norte e nordeste (talvez também leste) da distribuição geográfica, em que  S. midas estaria ampliando sua distribuição, excluindo S. bicolor. Caso isso seja comprovado, será uma ameaça de extrema complexidade, que pode ser natural ou estar sendo potencializada ou mesmo induzida pelas ações antrópicas no ambiente. As capturas para comércio ou manutenção como animal de estimação existem, mas são pouco freqüentes, quando comparadas às de outros primatas. Nas áreas urbanas ou em vilas e comunidades com maiores densidades humanas, são freqüentes acidentes provocados por cães e gatos, fios elétricos, maus tratos (crianças com baladeiras) e atropelamentos. Nesse último caso, devem ser consideradas também as rodovias fora das áreas urbanas. 
  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  Ainda são necessárias mais pesquisas de longo prazo sobre ecologia, genética e comportamento na natureza, incluindo interações com outras espécies, principalmente S. midas. A criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral com grandes áreas é imprescindível. Também são importantes outras medidas de conservação, como criação de corredores e recuperação de áreas degradadas com plantas nativas, educação ambiental, bem como manejo (translocações, reintroduções e enriquecimentos) e monitoramento de populações, grupos e indivíduos.
  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO 

  Atuais: Equipe do Projeto Sauim-de-Coleira/UFAM, coordenado por Marcelo Gordo; Fábio Röhe (INPA/Projeto Sauim-de-Coleira); Eduardo Martins Venticinque (Wildlife Conservation Society / Projeto Sauim-de-Coleira); Rosana Junqueira Subirá (Prefeitura Municipal de Manaus); Renata Bocorny de Azevedo e Júlio César Bicca-Marques (PUC/RS). Passado: Sílvia G. Egler; Marcelo Derzi Vidal.

Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

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