Ateles belzebuth Geoffroy, 1806
NOME POPULAR: Coatá; Macaco-aranha
SINONÍMIAS: Ateles belzebuth belzebuth; Ateles marimonda; Ateles
fuliginosus (Kellogg & Goldman, 1944)
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Primates
FAMÍLIA: Atelidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: não consta
Anexos da CITES: Anexo II
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): VU
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – A3cd
- INFORMAÇÕES GERAIS
Ateles belzebuth possui uma pelagem que varia do marrom escuro ao preto na face dorsal do corpo e
uma pelagem mais clara, de coloração creme, em sua face ventral. Pêlos branco-amarelados também
estão presentes na testa e nas costeletas, porém menos evidentes do que em Ateles marginatus. Esse
primata habita, preferencialmente, as florestas altas de terra firme, ocupando também florestas sazonalmente inundadas, quando essas oferecem maior abundância de frutos. Além de ser essencialmente
frugívoro, alguns estudos registraram uma dieta composta de 75 a 83% de frutos maduros (Klein &
Klein, 1977; Symington, 1989; Stevenson et al., 1991 apud Defler, 2003). Seu deslocamento diferenciado é caracterizado pela braquiação, mediante uma locomoção suspensória, efetuada principalmente
no dossel da floresta. Utilizada como um quinto membro, a cauda preênsil possibilita uma enorme agilidade no deslocamento e uma versatilidade de apoio para a manipulação de frutos. Embora cheguem a
percorrer até 2.000 m de distância, os coatás passam a metade do tempo descansando, enquanto a outra
metade é despendida entre alimentação e deslocamento. Os grupos sociais são formados de 16 a 40
indivíduos, que se dividem em subgrupos menores, normalmente de 3 a 4 indivíduos, principalmente
para forragear. Esse comportamento, característico em sociedades de fissão-fusão de grupos, comum
também aos chimpanzés do Velho Mundo (Pan troglodytes), é considerado como uma estratégia para
a obtenção de frutos. Os subgrupos são, muitas vezes, formados de fêmeas com suas proles, embora
Klein & Klein (1973) apud van Roosmalen & Klein (1988) tenham registrado pelo menos um macho
adulto e uma fêmea adulta em 66% dos subgrupos observados. Somente após o quarto ano de vida, as
fêmeas desenvolvem os primeiros ciclos sexuais. A gestação se dá em torno de 230 dias e posteriormente o filhote permanece intimamente junto à mãe durante os primeiros quatro meses de vida. A área de
vida varia entre 250 e 400 ha, tendo freqüentemente sobreposição com grupos vizinhos de até 30% da
área total. Em média, esses animais apresentam uma densidade populacional de 16 indivíduos por km2
. Em algumas ocasiões, são encontrados associados a outras espécies de primatas, como Cebus apella,
Saimiri sciureus e Alouatta seniculus. Os coatás de ventre branco podem ser encontrados desde o nível
do mar até 2.500 m de altitude, segundo estimativas de Hernandez-Camacho & Defler (1989) apud
Defler (2003). No entanto, a presença da espécie está diretamente relacionada com as características do
ambiente de floresta, visto que a maioria dos estudos já realizados tem demonstrado que a abundância
dos coatás está associada à disponibilidade de frutos existentes no local, indicando a alta sensibilidade
dos mesmos para alterações do ambiente natural.
- DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Ao norte do rio Solimões, a partir da margem direita do rio Negro, até a margem esquerda do rio Branco,
expandindo-se até a Venezuela, Colômbia, Equador e Peru. A partir da revisão de Kellogg & Goldman
(1944), acreditava-se que a espécie era encontrada por uma vasta extensão, de forma contínua, abrangendo os países citados acima. Atualmente, os coatás ocorrem da margem esquerda do rio Branco até a
margem direita do rio Negro, estendendo-se até o sul da Venezuela, parte da Colômbia, leste do Equador
e leste do Peru, até o rio Marañón. Embora apresente extensão aparentemente ampla, a ocorrência da
espécie não é contínua por toda essa área, tendo em vista, principalmente, as preferências de hábitat
e as pressões antrópicas. Na Colômbia, por exemplo, Defler (2003) afirma que os coatás estão ausentes em grandes áreas ao leste do país, antes consideradas de ocorrência da espécie, segundo a revisão
de Kellogg & Goldman (1944). Provavelmente, a mesma situação seja procedente para o interflúvio
Negro-Branco, em território brasileiro, pela vulnerabilidade da espécie.
- PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
No Brasil, a espécie é encontrada no PARNA do Pico da Neblina (AM); EE de Maracá, EE de Caracaraí
e EE de Niquiá (RR). O PE Serra do Aracá e a REBIO Morro dos Seis Lagos, ambos criados em 1990,
no Estado do Amazonas, estão distribuídos na área de provável ocorrência da espécie, mas sua presença
nessas Unidades de Conservação ainda precisa ser confirmada. Na Colômbia, ocorre no PARNA Natural
La Macarena, PARNA Natural Cordillera de Los Picachos e no PARNA Natural Tinigua (Defler, 2003).
Na Venezuela, ocorre no PARNA Jaua-Sarisarinama e no PARNA Yapacana. No Peru, é encontrada na
Reserva Nacional Pacaya-Samiria (Konstant et al., 1985).
- PRINCIPAIS AMEAÇAS
A caça e o desmatamento desenfreado resultantes do crescente aumento das frentes de colonização
humana são as principais ameaças à espécie. Como ocupam grandes áreas, preferencialmente em bom
estado de conservação, os coatás são bastante sensíveis às alterações do hábitat natural, sendo os primeiros primatas a desaparecer de áreas onde a caça e a exploração madeireira são intensas. Assim como
outras espécies de grande porte, esse primata, além de ser bastante apreciado por caçadores, apresenta
um recrutamento muito lento, que se caracteriza pela formação de populações muito frágeis frente às
pressões antrópicas com uso intenso dos recursos naturais.
- ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO
Em vista do ritmo acelerado com que populações humanas estão ocupando áreas de floresta nativa,
principalmente aquelas adjacentes às Unidades de Conservação, é necessário um controle urgente dessas ocupações próximas das áreas de ocorrência da espécie. Além disso, fiscalização mais rígida e
programas de educação ambiental são de extrema importância para garantir a conservação e evitar que
as populações significativas existentes em grandes áreas ainda bem conservadas sofram forte declínio.
Essas ações podem ser consideradas prioritárias para combater o aumento da ameaça de extinção que a
espécie vem sofrendo, excluindo a possibilidade de mudança da categoria Vulnerável para Em Perigo,
segundo a classificação atual da União Mundial para a Natureza - IUCN.
- ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO
Os primeiros estudos sobre a espécie foram realizados por Lewis e Dorothy Klein, no Parque Nacional
Natural La Macarena (Colômbia), na década de 1960. Posteriormente, foi criado o Centro de Investigaciones Primatologicas de La Macarena, no qual várias pesquisas foram desenvolvidas por Pablo
R. Stevenson e colaboradores, Jorge A. Ahumada e colaboradores e Kosei Izawa e colaboradores. No
Brasil, o único estudo detalhado foi realizado por Andrea Nunes, que estudou um grupo na década de
1980, na ilha de Maracá, em Roraima.
Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.
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