sexta-feira, abril 03, 2015

A Pobreza do Solo Como Fator Limitante na Agricultura na Amazônia

Visão geral de região próxima a Manaus|Amazonas|Brasil
  Meggers desencadeou uma tradição que aponta o ambiente como fator limitante para a presença de culturas complexas no trópico úmido (1954). Essa autora tentou mostrar que os solos são pobres e ácidos, portanto incapazes de sustentarem populações maiores do que aquelas que podem explorá-los pelo cultivo de corte e queima, tradicional entre sociedades amazônicas. O solo não pode sustentar esses tipos de agricultura por mais de dois ou três anos e a população tem que abandonar a região.
  O processo de sucessão secundária permite, então, a renovação da área para permitir o cultivo novamente num futuro de 20 a 100 anos. O argumento é simples e toda uma geração nele encontrou uma base para generalizar sobre as populações da Amazônia.
  As críticas a este ponto de vista não demoraram a aparecer, mas não foram tão consideradas na época. Carneiro (1957) tentou mostrar que entre os cuicurus do Alto Xingu era possível obter-se grandes safras de mandioca, capazes de sustentar populações de até 2.000 pessoas, sem a necessidade de deslocamentos constantes. Para Carneiro o fator limitante não era o solo, mas as plantas invasoras do terreno, ou ervas daninhas, que tornavam maior o custo da limpeza das roças a cada ano, o que posteriormente levaria ao abandono do terreno. Essa hipótese é apoiada em descoberta por agrônomos de que em terras roxas eutróficas de alta fertilidade o principal problema no manejo não é a fertilidade do solo, mas sim o controle das plantas, invasoras (Sanchez et al. 1982). Embora as análises do solo dos cuicurus não permitam uma classificação certa, podemos dizer que a região ocorre em uma das duas manchas maiores de terras roxas eutróficas na Amazônia.
  A outra crítica vem de Femdon (1959), que mostrou a falta de atenção às inter-relações de numerosos fatores em sistemas agrícolas no modelo de Meggers. Uma área não tem uma potencialidade estática, mas possui certas capacidades produtivas a cada nível tecnológico aplicado. Assim, uma área seca e improdutiva pode ser irrigada; uma área pobre em fertilidade pode ser corrigida pelo transporte de matéria orgânica de planícies fluviais, e uma área alagada pode ser drenada. Femdon chamou atenção para o caso das culturas complexas na Ásia, em áreas comparáveis aos trópicos úmidos americanos, mas nas quais a história cultural mostra a utilização da laterita para construção de templos monumentais, aproveitando, assim, um dos materiais apontados pelos deterministas ambientais como responsável pelo baixo potencial agrícola do trópico úmido.
  O estado presente dessa discussão sugere que seja melhor não pensar no solo como único fator limitante, valorizando a variabilidade dos solos da Amazônia, a capacidade diferencial entre populações no manejo do solo, e o uso do solo em função da densidade demográfica (veja Moran 1989 para uma discussão especializada dessa matéria).
  Os solos da Amazônia estão entre os mais jovens e os mais velhos do mundo. Quase 75% da bacia amazônica é dominada pelos oxissolos e ultissolos, caracterizados pela sua acidez, pobreza química, excelente estrutura física, cor vermelha e amarela, e boa drenagem. Uns 14% estão representados por entissolos, inceptissolos e gléi hidromórficos, solos mal drenados e aluviõões, geralmente encontrados nas áreas de várzea, restingas e igapós. A fertilidade depende da fonte do aluvião, que pode ser ácido ou básico. Em 8% da bacia amazônica encontram-se solos de média e alta fertilidade, bem drenados, que incluem os alfissolos, venissolos e molissolos. Os podzols, que cobrem apenas 3%da região, subjazem às bacias drenadas por rios negros. Estatisticamente, portanto, a freqüência de solos ácidos e deficientes em nutrientes permanece válida, desde que se entenda que milhões de hectares de solos de boa fertilidade encontram-se dispersos no meio de solos pobres (Moran 1989).

Fonte: Amazônia Legal Textos-Solos

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