segunda-feira, setembro 12, 2011

Mono-carvoeiro

Brachyteles hypoxanthus (Kuhl, 1820)
 
NOME POPULAR: Muriqui; Muriqui-do-norte; Mono-carvoeiro;
Mono; Miriqui
SINONÍMIAS: Brachyteles arachnoides; Brachyteles arachnoides
hypoxanthus
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Primates
FAMÍLIA: Atelidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: ES (CR); MG (EN)
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): CR
Brasil (Biodiversitas, 2002): CR – B1ab(i, v) + 2ab(i, v); E

  • INFORMAÇÕES GERAIS
  Brachyteles hypoxanthus é o maior macaco neotropical, endêmico da Mata Atlântica brasileira, que habitava vários tipos fisionômicos do bioma, sendo encontrado desde formações litorâneas da encosta superúmida da serra do Mar até as florestas semidecíduas do interior de São Paulo e Minas Gerais, ocorrendo do sul da Bahia ao norte do Paraná (Aguirre, 1971; Mittermeier et al., 1987; Strier, 1992). São reconhecidas duas espécies – o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) e o muriqui-donorte (Brachyteles hypoxanthus) – diferenciadas pela presença de um polegar vestigial e despigmentação incompleta nas regiões da face e períneo em B. hypoxanthus, além de diferenças genéticas (Lemos de Sá et al., 1993). Os muriquis-do-norte são primatas de hábitos diurnos, que se alimentam principalmente de folhas, seguidas por frutos, flores e outras partes vegetais, como cascas de árvores, brotos de bambu e néctar (Strier, 1991b). Vivem em grupos sociais de tamanho pequeno a grande e se caracterizam por baixa agressividade intragrupal, com sistema reprodutivo promíscuo (Strier, 1992, 1997; Strier et al., 2002a). A sazonalidade na disponibilidade de alimentos é possivelmente o fator determinante da existência de uma marcada sazonalidade nos padrões de reprodução dos muriquis (Strier & Ziegler, 1997; Strier et al., 2001). Os nascimentos ocorrem em intervalos de três anos e se concentram nos meses de seca. Os machos são filopátricos e as fêmeas geralmente se dispersam de seu grupo natal quando alcançam 6 anos de idade, em média, antes de atingirem a puberdade (Strier, 1991a; Strier et al., 1993; Printes & Strier, 1999; Strier & Ziegler, 2000). As fêmeas só vão ter seus primeiros filhotes pelos menos dois anos depois, quando se juntam a um novo grupo social, ou seja, quando completam de 8 a 11 anos de idade (Strier 1996; Strier & Zieger, 2000). Os muriquis utilizam vários tipos de habitats florestais, demonstrando certa preferência por matas secundárias e em regeneração. Esses primatas mudam seus padrões de deslocamento diário em resposta à disponibilidade de itens preferidos da dieta, sendo que grandes aglomerados de frutos, flores e folhas novas são seus alvos principais (Strier, 1991b). O tamanho da área de vida parece relacionar-se com o tamanho do grupo, podendo variar de algumas dezenas de hectares, em fragmentos florestais bem pequenos, a várias centenas de hectares, em áreas maiores (Strier, 1993/1994; Dias & Strier, 2003).
  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
  A distribuição geográfica do muriqui-do-norte incluía a Mata Atlântica dos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, com exceção das matas de baixada do extremo sul da Bahia e norte do Espírito Santo (Aguirre, 1971; Mittermeier et al., 1987; Strier, 1992). Provavelmente, o limite setentrional de sua distribuição seria a bacia do rio Jequiriçá, que deságua na baía de Todos os Santos, incluindo as matas da margem direita do rio Paraguaçu (Aguirre, 1971). O limite sul da espécie é ainda mais indefinido, sendo provável que sua distribuição se estenda até a serra da Mantiqueira, no sul de Minas Gerais, próximo à divisa com os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo (Mendes et al., 2007). A oeste, a distribuição da espécie certamente alcançava os limites do bioma Mata Atlântica, até zonas de transição para o Cerrado (Hirsch et al., 2002). Atualmente, a presença do muriqui-do-norte está confirmada em apenas 12 localidades, sendo seis áreas privadas, três Unidades de Conservação estaduais e três Unidades de Conservação federais. Somadas, essas áreas abrangem cerca de 160.000 ha e, pelo menos, 855 indivíduos (Mendes et al., 2007). A população conhecida aumentou significativamente nos últimos cinco anos, mas o número total ainda é pequeno em termos de viabilidade populacional, especialmente quando se considera que nenhuma população chega a atingir 250 indivíduos (Strier et al., 2002b, 2006). No Estado da Bahia, atualmente, não há confirmação de presença da espécie, mas ela foi observada próximo à divisa com Minas Gerais, na Fazenda Duas Barras, município de Santa Maria do Salto (Melo et al., 2004). Em Minas Gerais, a espécie também ocorre em duas áreas não-protegidas: Fazenda Córrego de Areia (Peçanha) e Fazenda Esmeralda (Rio Casca). No Espírito Santo, está presente em 13 fragmentos florestais privados, no município de Santa Maria de Jetibá (Mendes et al., 2007).
  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
  REBIO Augusto Ruschi e entorno e PARNA do Caparão (ES); REBIO da Mata Escura, PE do Rio Doce, PE da Serra do Brigadeiro, RPPN Feliciano Miguel Abdala (Caratinga), RPPN Mata do Sossego (Simonésia) e arredores do PE de Ibitipoca (MG). Há relatos da ocorrência de muriquis no PARNA do Itatiaia (RJ), mas não há ainda confirmação de que espécie se trata.
  • PRINCIPAIS AMEAÇAS
  A principal ameaça de extinção está associada à destruição do hábitat, já que a Mata Atlântica foi reduzida a pequenos fragmentos florestais, e também à caça como fonte de carne, visto o grande porte da espécie. O muriqui apresenta uma baixa taxa reprodutiva, o que aumenta a sua vulnerabilidade à extinção (Strier, 1991a, 1993/1994, 2000). A maioria das populações vive em ambientes com forte interferência antrópica, em contato com seres humanos, animais domésticos e cursos d’água contaminados. Portanto, a possibilidade de introdução de doenças pode ser alta, pondo em risco a sobrevivência das pequenas populações isoladas.
  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO
  Algumas ações são recomendadas para a conservação dos muriquis: realização de levantamentos e censos; monitoramento das populações conhecidas; estudos da estrutura e variabilidade genética das populações; estudo e monitoramento parasitológico; monitoramento hormonal de populações críticas; manejo de pequenas populações ameaçadas; simulação de viabilidade populacional; avaliação periódica da eficiência das ações de proteção; planejamento de um programa de manejo em cativeiro; divulgação e educação ambiental, com estímulo ao ecoturismo; proposição de alternativas socioeconômicas em
áreas prioritárias para a conservação da espécie; restauração de habitats; criação e manutenção de um fundo para a conservação do muriqui.
  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO
 A maior parte dos dados sobre o muriqui-do-norte deve-se ao trabalho de Karen B. Strier (Wisconsin University, EUA) e auxiliares, desenvolvido na RPPN Feliciano Miguel Abdala (Caratinga/MG), atualmente com a parceria de Sérgio Lucena Mendes (UFES). Jean P. Boubli coordena outro projeto sobre a ecologia da espécie na RPPN Feliciano Miguel Abdala. Em Minas Gerais, há ainda o projeto coordenado por Luiz Gustavo Dias (Fundação Biodiversitas), com apoio de Fabiano Rodrigues de Melo (UFG), abrangendo três Unidades de Conservação. No Espírito Santo, Sérgio Lucena Mendes (UFES) coordena um projeto de conservação de muriqui, em Santa Maria de Jetibá, e outro de censo populacional, no PARNA do Caparaó. Fabiano Rodrigues de Melo, Waldney Pereira Martins e Luiz Gustavo Dias, todos pelo CECO, e Sérgio Lucena Mendes, pelo IPEMA, desenvolvem projetos com a
espécie mediante financiamento do Programa de Proteção às Espécies Ameaçadas de Extinção da Mata Atlântica Brasileira, coordenado em parceria pela Fundação Biodiversitas e CEPAN.

Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

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