domingo, novembro 20, 2011

Cachorro-do-mato-vinagre


Speothos venaticus (Lund, 1842)

NOME POPULAR: Cachorro-do-mato-vinagre; Cachorro-vinagre;  
Cachorro-do-mato 
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Carnivora
FAMÍLIA: Canidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: MG (PEx); PR (CR); SP (CR)
Anexos da CITES: Anexo I

CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): VU
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – A4c

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

  Speothos venaticus é um canídeo com corpo atarracado, orelhas, pernas e cauda bem curtas. O comprimento médio da cabeça e do corpo é de 74,3 cm (57 a 76 cm), o da cauda tem em média 12,3 cm e o peso fica entre 5 e 7 kg. A coloração varia entre o marrom claro e o escuro, tendo tonalidade mais clara na cabeça e no pescoço (Sheldon, 1992, Eisenberg & Redford, 1999). O período reprodutivo não parece apresentar sazonalidade, sendo a gestação de aproximadamente 67 dias, após a qual nascem em média 3,8 filhotes (1 a 6). É uma espécie altamente social, aparentemente, até mesmo com caçada grupal, com um rico repertório de vocalizações, vivendo em grupos familiares pequenos (de quatro a sete indivíduos, podendo chegar a 12), nos quais apenas o casal dominante reproduz. O tamanho médio dos grupos observados na Amazônia brasileira foi de 4,5 animais (variação de 2 a 8 indivíduos), enquanto na serra das Araras (Mato Grosso) a média foi de 2,6 indivíduos (variação de 1 a 3). No Pantanal de Barão de Melgaço, no Mato Grosso, foi estimado um tamanho médio de grupo de 2,75 indivíduos (variação de 1 a 5 indivíduos) (Lima & Dalponte, dados não publicados). Indivíduos solitários também são encontrados (Peres, 1991; Sheldon, 1992; Dalponte, 1995; Macdonald, 1996; Eisenberg & Redford, 1999). Aparentemente, o número de indivíduos no grupo parece mudar com certa freqüência, tendo em vista a dispersão de jovens por volta dos nove meses de idade e a mortalidade de filhotes e adultos (E. Lima, com. pess.). A espécie é encontrada em áreas de florestas pluviais, deciduais, semideciduais e pré-montana, no Pantanal e nas áreas secas das savanas (Cerrado stricto sensu), mas não na Caatinga, do nível do mar a até 1.500 m de altitude. Recentemente, foi registrada em ambientes alterados na porção meio-norte do Brasil, sugerindo maior flexibilidade ecológica do que se supunha previamente. Na Reserva Natural Mbaracayú, no Paraguai,  Speothos venaticus apresentou maior associação com as  florestas altas do que com as médias e baixas ou com o Cerrado. Apesar da ampla distribuição geográfica, aparenta ser rara em todas as áreas onde ocorre (Bisbal, 1989; Sheldon, 1992; Zuercher  et al., 2005; Oliveira, in press a; b). No Mato Grosso, a espécie é encontrada nas planícies de inundação, como os pantanais do rio Paraguai, Guaporé e Mortes-Araguaia, no Cerrado e nas florestas ombrófilas. Na porção leste desse Estado, S. venaticus utiliza floresta de galeria e diferentes fisionomias savânicas, embora se aproxime de assentamentos humanos. Os hábitos de S. venaticus na natureza começaram a ser conhecidos apenas recentemente. O padrão de atividades aparenta ser tipicamente diurno, mas movimentos noturnos parecem ser muito freqüentes (E. Lima, com. pess.). Buracos de tatu (Dasypusspp. e Priodontes maximus) e ocos de árvores são usados como abrigo. A dieta é altamente carnívora, tendo como itens principais animais de porte considerável para o tamanho da espécie, como os grandes roedores caviomorfos (paca e cutia), tatus e, possivelmente, até mesmo veados (Mazama sp.). Inclui também pequenos roedores, aves, répteis e, esporadicamente, alguns frutos. No Mato Grosso, um estudo consistente de carcaças de presas e fezes indica que a dieta é quase que exclusivamente à base de tatusgalinha (Dasypus novemcinctus). No Paraguai, pacas e cutias representaram 91% da biomassa consumida pela espécie, sendo o peso médio das presas consumidas de 2,2 kg, ou seja, 39% do peso do canídeo na região. Isso talvez possa ser possível pela estratégia de caçadas grupais (Peres, 1991; Zuercher et al., 2005; Oliveira in press, b; Lima & Dalponte, obs. pess.). Estimativas preliminares de radiotelemetria sugerem que a área de vida de uma matilha seja de pelo menos 100 km2, aparentemente não dividida com outras matilhas (Lima & Dalponte obs. pess.). Usando uma estimativa de área de vida de 20 km2(Silveira et al., 1998), calcula-se que pelo menos oito matilhas ocupavam uma área de 106.000 ha no Pantanal de Barão de Melgaço, no Mato Grosso (Lima & Dalponte, dados não publicados). 

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA 

  A espécie ocorre do oeste do Panamá ao leste dos Andes da Colômbia, Equador, Peru, Venezuela e Guianas, até o leste da Bolívia e do Paraguai e extremo nordeste da Argentina. No Brasil, ocorre da região Amazônica, até o leste do Maranhão, e do Brasil Central até Santa Catarina. A abrangência da distribuição geográfica atual foi reduzida nas regiões Sul e Sudeste, assim como nas áreas mais densamente povoadas, de onde a espécie praticamente desapareceu. Nas demais áreas, não deve ser muito diferente da original. 





  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 

  REBIO Gurupi e PE Mirador (MA); PARNA Amazônia (PA/MA); PARNA Emas (GO); EE IBGE (DF); PARNA Cavernas do Peruaçu e PARNA Grande Sertão Veredas (MG); EE Maracá (RR); PARNA Araguaia, PE Cantão e APA Palmas (TO); PARNA Iguaçu (PR); PARNA Nascentes do Rio Parnaíba (MA/PI/TO).

  • PRINCIPAIS AMEAÇAS 

  Speothos venaticus é uma espécie naturalmente rara ao longo de toda a sua área de distribuição. As principais ameaças à espécie são o desmatamento, tanto das áreas florestadas quanto do Cerrado, e a fragmentação e alteração de habitats. Doenças transmitidas por animais domésticos também representam uma ameaça considerável a algumas populações, pois a espécie aparenta ser bastante sensível a uma série de doenças. Como sua dieta é altamente carnívora e concentrada em animais de porte, como pacas e cutias, que também são espécies favorecidas pelos seres humanos, a caça das mesmas representaria uma redução (ou perda) da fonte alimentar, o que impactaria negativamente este canídeo raro. 

  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  As medidas para a conservação da espécie implicariam maior proteção aos seus habitats naturais, não apenas dentro de Unidades de Conservação. Dadas as características biológicas da espécie, ela necessita de áreas muito grandes (mega-reservas) para manter populações geneticamente viáveis. Dessa forma, a conectividade entre as áreas protegidas (incluindo Reservas Indígenas) é vital. Como os conhecimentos biológicos sobre S. venaticus são praticamente desconhecidos em vida livre, pesquisas científicas sobre a sua biologia e ecologia básica, assim como a sua distribuição geográfica, são também importantes.  A fiscalização das áreas protegidas representa mais uma medida estratégica à sua conservação.

  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO 

  Édson Lima (Instituto Pró-Carnívoros); Júlio Cesar Dalponte (UNEMAT e Instituto Pró-Carnívoros) e equipe desenvolvem pesquisas de campo da espécie com radiotelemetria. Tadeu G. de Oliveira (UEMA e Instituto Pró-Carnívoros) também atua nos aspectos ecológicos e conservacionistas e relativos à distribuição da espécie no Norte do Brasil. Gerald Zuercher (University of Kansas, EUA) tem trabalhado com a ecologia da espécie na RF de Mbaracayú, no Paraguai. Karen De Mateo (Saint Louis Zoo, EUA) também trabalha com a espécie, especialmente em cativeiro. Cleide Chiaregatto (Zoológico de São Bernardo do Campo/SP) coordena o studbook brasileiro da espécie

Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

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