Thalassarche melanophris (Temminck, 1828)
NOME POPULAR: Albatroz-de-sobrancelha
SINONÍMIAS: Diomedea melanophris; Diomedea melanophrys;
Thalassarche melanophrys
FILO: Chordata
CLASSE: Aves
ORDEM: Procellariiformes
FAMÍLIA: Diomedeidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: PR (VU)
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): EN
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – A2bd + 3bd + 4bd
- INFORMAÇÕES GERAIS
Thalassarche melanophris é um albatroz que, quando adulto, é branco com asas negras e tem o característico bico alaranjado, com a ponta avermelhada. Há uma evidente faixa ocular escura, que é compartilhada com outras espécies do gênero Thalassarche. Os juvenis, quando deixam o ninho, possuem uma faixa peitoral amarronzada e o bico negro, que depois se torna amarronzado, com a ponta enegrecida. A envergadura máxima é de 2,5 m. Nas Geórgias do Sul, os machos pesam entre 3,35 e 4,66 kg, enquanto as fêmeas têm peso entre 2,9 e 3,8 kg. Há diferenças genéticas entre aves das ilhas Falklands/Malvinas e as das Geórgias do Sul, tão grandes quanto entre essas e T. impavida, a espécieirmã, endêmica da ilha Campbell (Nova Zelândia). O tipo de T. melanophris foi coletado no Cabo da Boa Esperança, área utilizada pelas aves das Geórgias do Sul, de forma que a população das Falklands/Malvinas talvez necessite ser renomeada. Nelas as aves chegam às colônias no final de agosto e início de setembro, realizando as posturas em outubro. Já nas Geórgias do Sul isso ocorre três semanas depois. A incubação leva cerca de 68 dias e os juvenis deixam o ninho após 116-125 dias (meados de março-abril para as aves das Falklands). O ciclo reprodutivo, relativamente curto, permite que a espécie reproduza anualmente. Mais de 90% dos ovos eclodem e de 29% a 77% dos filhotes sobrevivem até a idade de deixar o ninho. Entre 1975 e 1991, o sucesso reprodutivo nas Geórgias do Sul variou de 0 a 64% (média de 29%), estando ligado à disponibilidade de krill (Euphausia superba). Os juvenis retornam às colônias entre 3 e 8 anos de idade e começam a se reproduzir quando têm de 6 a 13 anos. Nas Geórgias do Sul, a filopatria é elevada (58% dos juvenis voltam à colônia natal) e aves adultas não mudam de colônia. A sobrevivência anual dos adultos é de 94% (machos) a 96% (fêmeas) e a dieta é constituída por krill (40% da massa consumida), peixes (como Myctophidae e Channichtyidae), lampreias (Geotria australis, 39%) e cefalópodes (21%, especialmente a lula Todarodes). Nas Falklands, as presas principais são lulas (notadamente Loligo gahi) e peixes (como Micromesistius australis), que constituem juntos 90% da dieta, enquanto medusas e crustáceos (Munida gregaria) representam 10%. Dessa forma, há importantes diferenças ecológicas entre as duas populações. Thalassarche melanophris possui razoável capacidade de mergulho e pode capturar presas a pelo menos 5 m de profundidade. É notável pelo entusiasmo e agressividade com que acompanha embarcações pesqueiras e forrageia por descartes, agrupando-se em grande número ao redor de espinheleiros em operação.
- DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
A espécie parece ocupar todas as ilhas onde foi registrada historicamente. No Atlântico, as maiores populações estão nas ilhas Falklands (12 sítios), especialmente em Steeple Jason e Beauchene (cada uma com mais de 100.000 pares reprodutivos). Também há colônias nas Geórgias do Sul e, no limite entre o Atlântico e o Pacífico, em Diego Ramirez e Islas Ildefonso (Chile). Fora do Atlântico, há colônias nas ilhas Crozet, Kerguelen, Heard, McDonald, Macquarie, Bishop, Clerk, Antipodes, Campbell e Snares. Aves das Geórgias do Sul alimentam-se principalmente sobre a plataforma daquele arquipélago e de South Orkney, durante o período reprodutivo, não se aproximando da plataforma continental das Falklands e da Patagônia. Após a reprodução, deslocam-se em sua maioria para o sul da África, sendo encontradas na região da Corrente de Benguela e Cabo da Boa Esperança. Também há várias recapturas feitas na Austrália e Nova Zelândia, sugerindo um deslocamento circumpolar. No entanto, há alguns registros de aves anilhadas nas Geórgias do Sul que foram recapturadas no Uruguai, na província de Buenos Aires (Argentina), no Rio de Janeiro e no sul da Austrália. As aves de Diego Ramirez utilizam as águas próximas ao Cabo Horn e a costa pacífica da América do Sul, na região sob influência da Corrente de Humboldt. Aves das Falklands/Malvinas parecem se restringir às águas ao redor das ilhas e da vizinha plataforma continental da Patagônia, durante o período reprodutivo. Aves anilhadas ali têm sido recuperadas ao longo da costa leste sul-americana até o Nordeste do Brasil (Maranhão). O maior número de recapturas acontece ao sul do Rio de Janeiro (Cabo Frio), sugerindo que essas aves se deslocam para o norte, talvez acompanhando a corrente das Falklands até a Convergência Subtropical e de lá a língua de águas frias e ricas que se forma sobre a plataforma continental brasileira durante o inverno.
- PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Desconhecida.
- PRINCIPAIS AMEAÇAS
Centenas de indivíduos desta espécie, em sua maioria juvenis, são capturados incidentalmente por barcos espinheleiros que atuam no Sul do Brasil, tanto sobre a plataforma continental como em águas fora dela, especialmente na região da Convergência Subtropical, e também em águas internacionais. Esses barcos visam principalmente a captura de espadartes, tubarões e atuns. A população reprodutiva total de T. melanophris era estimada em cerca 680.000 casais – 80% nas Falklands/Malvinas, 10% nas Geórgias do Sul e 3% no Chile. Esta estimativa foi recentemente revisada para cerca de 530.000 – 70% nas Falklands/Malvinas, 20% nas Geórgias do Sul e 10% no Chile. Algumas populações nas Geórgias do Sul sofreram redução de 35% desde 1989-1990. Em 1995, apenas 9.500 pares estavam presentes. No total, todas as populações ali monitoradas decresceram 31% naquele período. O sucesso reprodutivo e a expectativa anual de sobrevivência dos adultos também diminuíram. As Falklands/Malvinas abrigam a maioria da população mundial de T. melanophris, com um total de cerca de 458.000 pares em 1995. No entanto, censos feitos em 2000 apontam uma redução de pelo menos 86.000 pares na população das ilhas, estimada hoje em 382.000 pares. A colônia de Steeple Jason, a maior do mundo (com 68% das aves do arquipélago), perdeu 41.200 pares, tendo hoje em torno de 150.000 casais reprodutivos. Estima-se que, nos últimos 20 anos, a população nas Falklands/Malvinas tenha decrescido de 506.000 para 382.000 pares reprodutivos, caindo de 468.000 para 382.000 pares apenas nos últimos cinco anos. Com base nessas taxas, infere-se que a espécie declinará cerca de 65% ao longo de três gerações (65 anos). Como há poucas localidades onde a espécie está em crescimento, um declínio geral de 50% ao longo deste período é esperado.
- ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO
A principal estratégia para a conservação da espécie no Brasil é a adoção, pela frota espinheleira, de medidas mitigatórias que impeçam ou minimizem a captura de aves marinhas. Devem ser adotadas medidas que possam desencorajar ou impedir o acesso das aves aos anzóis iscados, incluindo lançamento noturno, uso de linhas espanta-aves (tori lines), lançamento submerso, iscas tingidas de azul e lastros mais pesados nas linhas secundárias. O Plano Nacional de Conservação de Albatrozes e Petréis (PLANACAP) foi aprovado pelo IBAMA/Ministério do Meio Ambiente e deve ser implementado.
- ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO
Tatiana Neves e Fabiano Peppes (Instituto Albatroz) e Fábio Olmos (Pesquisador autônomo e CBRO) têm trabalhado com a questão da captura incidental de aves marinhas pela frota brasileira, incluindo T. melanophris, e são autores do PLANACAP Leandro Bugoni e Carolus M. Vooren (FURG) e Jules Soto (UNIVALI) têm estudado a ecologia e distribuição das aves oceânicas do extremo-sul brasileiro, incluindo a sua interação com a pesca.
Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
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