sábado, outubro 29, 2011

Macaco-prego


Cebus xanthosternos Wied-Neuwied, 1826 

NOME POPULAR: Macaco; Macaco-prego; Macaco-de-bando; Coité,  
Piticau; Macaco-preto; Macaco-mirim; Macaco-verdadeiro;  
Macaco-prego-do-peito-amarelo
SINONÍMIAS: Cebus apella xanthosternos
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Primates
FAMÍLIA: Cebidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: MG (CR)
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): CR
Brasil (Biodiversitas, 2002): CR – A2cd; C2a(i)

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

  Cebus xanthosternos diferencia-se das demais espécies do gênero por apresentar coloração amarelada no peito e na parte anterior do braço e da cabeça, com dois tufos muito pequenos e voltados para trás, dando a impressão de ausência de tufos (Silva Júnior, 2001). Durante levantamento realizado entre 2002 e 2004 (Kierulff et al., 2004; 2005), o macaco-prego-do-peito-amarelo foi encontrado em regiões com diferentes fitofisionomias: floresta ombrófila densa, floresta estacional semidecidual, floresta estacional decidual e áreas de tensão ecológica (áreas de contato entre tipos de vegetação). Apesar de C. xanthosternos ser encontrado em matas com características de Caatinga, tais áreas originalmente eram cobertas por florestas, caracterizando-se atualmente como matas remanescentes secundárias, com presença de espécies típicas de ambientes xéricos. Além disso, o macaco-prego-do-peito-amarelo está restrito, no bioma Caatinga, a serras e morros onde há formações florestais ou matas mais úmidas nos vales e encostas. Durante o levantamento, foi observada uma grande variação geográfica no padrão de coloração das populações de C. xanthosternos. Os animais cativos e fotografados na região norte, próximo ao rio São Francisco, apresentaram uma coloração mais clara; no sudeste e no centro da distribuição, as populações registradas apresentaram a coloração típica da espécie, enquanto que no noroeste do Estado de Minas Gerais os animais apresentaram uma coloração mais escura. Essa coloração mais escura também foi descrita por Santos et al. (1987) e A. B. Rylands (em Coimbra-Filho et al., 1992). As diferenças na coloração podem indicar uma variação clinal no sentido norte-sul, ou populações hibridizando nas áreas de sobreposição de distribuição entre diferentes espécies de Cebus. Pouco se sabe sobre a ecologia e o comportamento desta espécie na natureza, pois a maioria dos dados disponíveis para o gênero Cebus refere-se a estudos com as espécies amazônicas. As densidades de C. xanthosternos resgistradas nas matas do sul da Bahia foram inferiores àquelas encontradas para outras espécies de Cebus da Mata Atlântica. A provável causa dessas baixas densidades é a caça, tanto para a alimentação, quanto para a manutenção de indivíduos como animais de estimação. Observações diretas e entrevistas com moradores das áreas de ocorrência da espécie indicam que o desmatamento e a caça ainda são comuns. De cerca de 500 entrevistas, em 4% os entrevistados indicaram que o macaco-prego-do-peito-amarelo é caçado. Além disso, foram encontrados mais de 20 indivíduos mantidos como animais de estimação em diferentes localidades. 

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA 

  Os registros do século XIX (e.g. Wied-Neuwied, 1989) e os resultados de levantamentos publicados sobre a espécie (Oliver & Santos, 1991; Coimbra-Filho et al., 1991) forneceram evidências de que a distribuição original de C. xanthostenos incluía uma extensa área ocupada por florestas limitadas a norte e oeste pelo rio São Francisco, nos Estados de Sergipe e Bahia, a leste pelo oceano Atlântico e ao sul pelo rio Jequitinhonha, na Bahia e norte de Minas Gerais. Entretanto, foram poucas as visualizações feitas por Oliver & Santos (1991), sendo a maioria dos registros originada de informações de terceiros e por animais cativos. O levantamento realizado entre 2002 e 2004, que considerou apenas as localidades com ocorrência confirmada por meio de armadilhas fotográficas (Kierulff et al., 2004), animais cativos capturados na área, animais observados nas matas e relatos recentes, confirmou a distribuição daqueles autores. As florestas localizadas na área de distribuição da espécie, no entanto, estão bastante fragmentadas, havendo apenas algumas maiores do que 3.000 ha. As populações remanescentes são poucas e estão isoladas em fragmentos de mata. 
  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 

  REBIO de Una (BA) – área total de 11.400 ha, onde cerca de 6.000 ha estão cobertos por florestas que, junto com as matas vizinhas, representam a maior área contínua com C. xanthosternos (cerca de 15.000 ha). REBIO Mata Escura (MG) – área total de 50.890 ha, em fase de implantação; possui cerca de 10.000 ha de florestas, divididos em um bloco continuo com 5.000 ha e fragmentos menores. PE Serra do Conduru (BA) – área total de 9.200 ha, sendo 600 ha de florestas fragmentadas; sua situação fundiária ainda não foi regularizada. PE Sete Passagens (BA) – com cerca de 2.000 a 3.000 ha de florestas. 
  • PRINCIPAIS AMEAÇAS

  As principais ameaças são: 1) destruição e alteração do hábitat – as populações de C. xanthosternos são poucas e ocorrem em áreas pequenas e altamente fragmentadas e isoladas umas das outras, estando, portanto, suscetíveis aos riscos tipicamente associados a populações de tamanho pequeno; 2) o desmatamento; 3) a caça e a captura de indivíduos para manutenção como animais de estimação. Simulações de probabilidade de extinção usando o programa Vortex (Lacy, 2005) mostram que uma das maiores ameaças para C. xanthosternos é a caça (Kierulff et al., 2005). Por exemplo, se ao acaso em uma população forem caçadas uma fêmea jovem e uma fêmea adulta por ano, nem mesmo uma população com 740 indivíduos (sobrevivendo em uma área de 20.000 ha) seria suficiente para manter a espécie por 100 anos. Como agravante, na área de distribuição da espécie não há florestas com 20.000 ha.
  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  As principais estratégias para a conservação da espécie são: 1) Proteção e expansão do hábitat protegido – mais áreas protegidas públicas ou particulares devem ser criadas para a manutenção da espécie. As Unidades de Conservação onde a espécie já existe devem ser regularizadas e/ou aumentadas, como, por exemplo, a Reserva Biológica de Una. Outro exemplo é o Parque Nacional da Chapada Diamantina, que deve ser aumentado para incluir as matas onde C. xanthosternos ocorre; 2) Uma análise genética das populações selvagens da espécie seria importante para entender a variação de coloração e possíveis hibridismos com outras espécies de Cebus. Esse conhecimento ajudaria principalmente na identificação de híbridos para o manejo da espécie em cativeiro; 3) Recuperação do hábitat nas áreas onde a espécie ocorre; 4) Campanhas de educação ambiental e aumento da  fiscalização para proteger a espécie da caça e captura; 5) Pesquisas sobre a ecologia da espécie para entender as causas das baixas densidades encontradas e os efeitos da fragmentação nas populações remanescentes. A identificação e indicação de estratégias prioritárias para a conservação da espécie, tanto na natureza quanto em cativeiro, são feitas pelo Comitê Internacional para o Manejo e a Conservação de Cebus xanthosternos e Cebus robustus, formado pelo IBAMA, por representantes de instituições nacionais e internacionais e por pesquisadores que trabalham com a espécie. Outra importante medida para a conservação da espécie é a organização de uma colônia em cativeiro viável no Brasil. Atualmente, a maioria dos zoológicos não faz distinção entre as diferentes espécies de Cebus e as colônias são formadas por indivíduos híbridos. 
  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO 

  IESB; CI-Brasil; CPRJ; CPB/IBAMA; Fundação Biodiversitas; Fundação Parque Zoológico de São Paulo; M. Cecília M. Kierulff (Fundação Parque Zoológico de São Paulo); Gabriel R. dos Santos, Priscila S. Gouveia, Gustavo R. Canale, Carlos Eduardo G. Carvalho e Camila R. Cassano (IESB); Anthony B. Rylands (Conservation International); Ilmar B. Santos (SEMAD/FEAM/MG); Adelmar F. Coimbra-Filho (CPRJ); Alcides Pissinatti (FEEMA); José de Souza e Silva Júnior. (MPEG); Russel A. Mittermeier (Conservation International). Fabiano Rodrigues de Melo, pelo CECO, e Gustavo R. Canale, pela Ideia Ambiental, desenvolvem projetos com a espécie mediante financiamento do Programa de Proteção às Espécies Ameaçadas de Extinção da Mata Atlântica Brasileira, coordenado em parceria pela Fundação Biodiversitas e CEPAN.

Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

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