quarta-feira, outubro 05, 2011

Bicó


Cacajao calvus calvus Geoffroy, 1847 

NOME POPULAR: Uacari, Uacari-branco, Bicó (Amazonas)
SINONÍMIAS: Brachyurus calvus, Pithecia calva, Cacajao calvus,  
Pithecia Alba
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Primates
FAMÍLIA: Pitheciidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: não consta
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): VU
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – B1ab(iii); C1

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

  Cacajao calvus calvus é um dos primatas neotropicais que mais atraem a atenção do público e de primatólogos, por apresentar coloração quase branca, não possuir muitos pêlos em boa parte da cabeça (que se mostra bastante avermelhada) e possuir uma cauda excepcionalmente curta para um Plathyrrino (Hershkovitz, 1987; Kinzey, 1997). Apesar do longo histórico de perseguição aos uacaris, caracterizada por aprisionamento e exportação (especialmente para Europa e Estados Unidos), tendo sido iniciada ainda em tempos coloniais e perdurando até a segunda metade do século XX, a espécie não é mais visada pelo homem nos dias atuais (Ayres, 1986a; Ayres & Johns, 1987; SCM, 1996). Não há registros de demanda por colecionadores ou expositores, embora tenha havido rumores, em 2005, de compradores e traficantes dispostos a pagar grandes somas por alguns indivíduos (J. Valsecchi, com. pess.). Em uma investigação mais profunda, porém, essa informação não foi confirmada. Em sua área de distribuição, são muito raros os registros de caça ou de abate intencional por qualquer outro motivo e está claro que os moradores e usuários de sua área de distribuição geográfica não apresentam interesse maior pela espécie (Amaral, 2005). Quando algum adulto com filhote é abatido, por qualquer motivo, ou morre de causas naturais, é comum que o filhote seja recolhido e criado como animal de estimação pelos moradores. Entretanto, a espécie possui uma distribuição natural bastante restrita. Seu modo de vida mostra-se bastante especializado às condições das áreas de várzea do médio Solimões (Ayres, 1986b, 1989; Silva Júnior & Martins, 1999). Embora toda a sua distribuição geográfica seja protegida pela Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (REDESM) e os níveis de proteção oferecidos pela Reserva sejam bastante adequados (Queiroz, 1994), existem riscos permanentes a esta subespécie, que se mostra susceptível a impactos decorrentes da ação humana. Perturbações em seu hábitat envolvendo alterações de composição vegetal são potencialmente perigosas para esses animais, pois algumas árvores exploradas pela população humana local são muito importantes na dieta desses primatas. Recentemente, na região do médio Solimões, observou-se que espécies vegetais que apresentam grande importância na dieta dos uacaris-brancos são usadas como lenha doméstica ou para fornos de olarias (SCM, 1996). Grande redução dessas árvores poderia causar forte impacto na distribuição e abundância naturais dos bicós. Por esse motivo, o manejo sustentável da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá inclui o controle ou mesmo a proibição da exploração de espécies de árvores que sejam de grande importância para esses primatas.

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

  Endêmico da Amazônia brasileira, encontrado apenas entre os rios Japurá e Solimões (Hershkovitz, 1987; Coimbra-Filho, 1990; Barnett & Brandon-Jones, 1997; Emmons & Feer, 1997; Eisenberg & Redford, 1999), desde a sua confluência, nas proximidades da cidade de Tefé (AM), até o Auati-Paraná, a jusante da cidade de Santo Antônio do Içá (AM), no rio Solimões (Ayres, 1986b; Queiroz, 1994; Silva Júnior & Martins, 1999). Esta é a extensão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, onde também existem registros de ocorrência de C. calvus rubicundus em sua porção mais a oeste. Entretanto, não há certeza sobre qual seria o limite de separação de C. c. calvus e de C. c. rubicundus nesta porção da área subsidiária da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Não há registro da 
existência ou não de parapatria ou sintopia entre essas duas formas. 

  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 

  REDES Mamirauá, de 1.124.000 hectares, criada pelo governo do Estado do Amazonas e administrada em co-gestão pelo SDS-IPAAM, Sociedade Civil Mamirauá e IDSM-OS/MCT (Queiroz, 1994; SCM, 1996). A criação da REDES Mamirauá foi motivada especialmente para conferir proteção a Cacajao calvus calvus.

  • PRINCIPAIS AMEAÇAS

  São reconhecidas como reais ameaças aos uacaris-brancos a destruição e a alteração de seus habitats naturais (Rylands, 1994), especialmente pelo desmatamento e corte seletivo de madeira. O endemismo extremo da espécie é sempre uma preocupação, mas não existem evidências para considerar esse aspecto como ameaça, uma vez que a população é continua e abundante, dentro dos parâmetros de viabilidade (Mittermeier, 1987; Queiroz, 1994; Silva Júnior & Martins, 1999; Rylands et al., 2000).  

  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  A garantia dos níveis de proteção dos habitats naturais ainda é a melhor estratégia de conservação para esta subespécie, envolvendo proteção in situ, controle das atividades humanas (por meio de planos de manejo e zoneamento), educação ambiental, entre outras. Além disso, uma ampliação das pesquisas disponíveis sobre as subespécies, sua taxonomia e distribuição geográfica, sua biologia, ecologia e genética de populações e de DNA podem constituir importantes estratégias subsidiárias à sua proteção (Mittermeier, 1987; Silva Júnior & Martins, 1999; Rylands et al., 2000). Em uma terceira prioridade, podem ser mencionadas estratégias de recuperação de habitats transformados, embora apenas de 4% a 
5% da extensão da distribuição geográfica da espécie se encontrem perturbados pela ocupação humana, sem maiores evidências de impacto negativo sobre a população de uacaris.

  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO 

  Um grupo de especialistas do IDSM-OS/MCT trabalha com a proteção deste primata, investigando sua distribuição geográfica e abundância natural e monitorando seu uso (ou não) pelos moradores locais.

Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

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