quarta-feira, novembro 16, 2011

Arara-azul-de-lear


Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856

NOME POPULAR: Arara-azul-de-lear
FILO: Chordata
CLASSE: Aves
ORDEM: Psittaciformes
FAMÍLIA: Psittacidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: não consta
Anexos da CITES: Anexo I
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): CR
Brasil (Biodiversitas, 2002): CR – C2a(ii)

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

  Anodorhynchus leari é uma arara de porte médio, cujos indivíduos medem entre 70 e 75 cm. Possui um possante bico negro e a plumagem da cabeça e do pescoço é azul-esverdeada. O ventre é azulpálido e o dorso, as asas e a cauda são azul-cobalto, sendo o anel perioftálmico em tom amarelo-claro. Também apresenta uma área nua, de formato triangular, na base da mandíbula, de coloração amareloenxofre, ainda mais clara do que a observada no anel perioftálmico. Esta espécie foi descrita apenas em 1856. Desde então, poucas informações estavam disponíveis e a sua área de ocorrência permaneceu desconhecida por mais de um século. A espécie foi descoberta na natureza apenas em 1978, no nordeste do Estado da Bahia, ao sul do Raso da Catarina, sendo endêmica da região. Em 1979, sua população era estimada em cerca de 60 indivíduos. Censos posteriores revelaram um número maior e estimativas atuais indicam que a população é de aproximadamente 500 indivíduos, o que pode refletir tanto aumento populacional quanto melhoria no conhecimento e aprimoramento da metodologia de censo das aves. O principal item alimentar da arara-azul-de-lear é o coco da palmeira licuri (Syagrus coronata). Estimase que o consumo diário de uma arara adulta seja de 350 cocos (21 g de endosperma). Enquanto um grupo de araras se alimenta, pelo menos um indivíduo permanece pousado em galhos mais altos de árvores grandes, revezando-se com outras araras nesta função de vigia. São apontadas como fontes de alimentação esporádicas: pinhão (Jatropha pohliana), umbu (Spondias tuberosa), mucunã (Dioclea sp.) e milho (Zea mays), ainda verde. A espécie pernoita e nidifica em cavidades existentes nos paredões de arenito e sai da área de repouso ao amanhecer, partindo para as áreas de alimentação. No final da tarde, os bandos retornam aos seus abrigos, chegando logo após o pôr-do-sol ou ainda mais tarde. O deslocamento sazonal é pouco conhecido, mas acredita-se que esteja relacionado à disponibilidade alimentar. Existem dois sítios de nidificação e pernoite conhecidos: um na Toca Velha (Estação Biológica de Canudos), município de Canudos (BA), e outro na serra Branca, município de Jeremoabo (BA). Vários casais podem nidificar em um mesmo paredão, desde que este contenha diversas cavidades. O período reprodutivo está associado à época de chuvas, tendo início no mês de setembro e prolongando-se até abril. Esta época coincide com a maior produtividade do licuri, que vai de fevereiro a abril. O período observado entre a eclosão do ovo e o início da saída do filhote do ninho é de 87 dias. Foram observados de um a três filhotes deixando os ninhos, sendo que macho e fêmea se revezam no cuidado parental. 

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA 

  Além da distribuição atual, há indícios de que a espécie ocorreria, no passado, até o município de Curaçá, na região da serra da Borracha (BA). Atualmente, a espécie ocorre do nordeste da Bahia ao sul do Raso da Catarina, ocorrendo nos municípios de Canudos, Euclides da Cunha, Paulo Afonso, Uauá, Jeremoabo, Sento Sé e Campo Formoso. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 

  EE do Raso da Catarina e Estação Biológica de Canudos (BA).

  • PRINCIPAIS AMEAÇAS

  A principal ameaça à espécie é a captura para o comércio ilegal, que tem sido muito freqüente, principalmente pela ausência de ações de fiscalização regulares. Além disso, a perda de hábitat e, sobretudo, a redução do licuri, principal item alimentar da espécie, têm um impacto importante sobre as populações desta arara. Há pouca regeneração da palmeira do licuri, principalmente por causa das queimadas e derrubadas para plantio de roças e sobrepastoreio. Os licuris não estão se renovando em área onde há presença de gado e, aparentemente, a produção de cocos é escassa em certas épocas, sendo que muitas das palmeiras adultas das áreas de alimentação da arara-azul-de-lear apresentam sinais de senescência. Outro fator é a utilização pelo homem das folhas e frutos do licuri. Os fazendeiros da região usam os frutos ainda verdes, no inverno, como suplemento alimentar para o gado, além de folhas novas desta palmeira, podendo limitar o suprimento alimentar para as araras. A diminuição na quantidade de licuri disponível faz com que as araras busquem alimento em plantações de milho, onde acabam sendo alvejadas pelos produtores. 

  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  Em 1993, o IBAMA criou um grupo de trabalho para a espécie, que se transformou, em 1999, no Comitê para Recuperação e Manejo da Arara-Azul-de-lear, visando o estabelecimento de estratégias de conservação da espécie. O plano de ação para a espécie está sendo finalizado e contempla as seguintes ações: fortalecimento da legislação vigente de proteção da fauna, em especial aquela referente à proteção da espécie e seu hábitat; incentivo a práticas agrícolas eficazes e de baixo impacto ambiental; ampliação da extensão de áreas protegidas dentro da área de ocorrência da espécie; fiscalização efetiva; pesquisa biológica, incluindo manejo de ninhos; busca por novas populações; recuperação e manejo de hábitat; monitoramento do status populacional; mapeamento, monitoramento e manejo das áreas de alimentação. Além disso, estão sendo desenvolvidas ações como o estabelecimento de novos centros de reprodução, realização de trabalhos de envolvimento da comunidade, educação ambiental e melhoria da qualidade de vida da população local. O programa de reprodução em cativeiro conta atualmente com 39 indivíduos dispersos pelo Brasil, Qatar e Inglaterra. A estratégia do programa é manejar as aves cativas como uma única população, visando o seu aumento de maneira genética e demograficamente viável, possibilitando futuras reintroduções, se necessário, e também experiências de manejo.

  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO 

  Trabalharam com a espécie em campo Dante Martins Teixeira (MNRJ); Luís Pedreira Gonzaga (UFRJ); Ricardo Bomfim Machado (Cl); Yara Barros e Carlos Yamashita (IBAMA); João Cláudio Araújo, Luís Francisco Sanfilippo, Angélica Midori e Marcos Aurélio Da-Ré (Pesquisadores autônomos); Pedro Scherer Neto (MHNCI); João Luiz Xavier do Nascimento, Ana Cristina de Menezes, Antônio Carlos Rego, Joaquim Rocha dos Santos e Débora Gomes (CEMAVE/IBAMA). Atualmente, o Projeto AraraAzul-de-Lear, coordenado pelo CEMAVE/IBAMA, com participação do PROAVES e da Fundação Biodiversitas, conta com uma equipe em campo em tempo integral, que desenvolve estudos sobre a biologia, tamanho e dinâmica populacional, comportamento reprodutivo, manejo e recuperação de hábitat e envolvimento das comunidades locais com a questão da conservação da espécie. As atividades de cativeiro são coordenadas pelo IBAMA e envolvem os zoológicos de São Paulo e Rio de Janeiro, além da Fundação Lymington, Crax-Sociedade de Pesquisa da Vida Silvestre e Al Wabra Wildlife Preservation, no Qatar. Estudos veterinários com a população em cativeiro são conduzidos pelo Dr. Lorenzo Crosta (Loro Parque Foundation, Espanha). A Fundação Biodiversitas mantém um programa permanente para proteção da espécie na Estação Biológica de Canudos (BA).

Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

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