sábado, novembro 19, 2011

Lobo-guará


Chrysocyon brachyurus Illiger, 1815

NOME POPULAR: Lobo-guará; Lobo-de-crina
SINONÍMIAS: Canis brachyurus
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Carnivora
FAMÍLIA: Canidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: SP (VU); MG (VU); PR (EN); RS (CR)
Anexos da CITES: Anexo II


CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): não consta
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – A3c

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

  Chrysocyon brachyurus é uma espécie de pernas longas, pelagem longa de cor laranja-avermelhado e orelhas grandes. Possui uma crina negra no dorso, mesma cor do focinho, das patas dianteiras e de mais da metade distal das patas traseiras. A garganta e a parte interna das orelhas são brancas. Cerca de 44% do comprimento da cauda tem cor branca (parte distal), mas a proporção varia entre indivíduos (Rodden et al., 2004). Lobos-guará habitam, preferencialmente, habitats abertos, como campos, cerrados e veredas e campos úmidos (Rodden et al., 2004). Apesar de ser uma espécie relacionada ao bioma Cerrado, possui registros esporádicos em áreas do Pantanal e de transição do Cerrado com a Caatinga. Sua habilidade em estabelecer-se em diversos habitats tem resultado em registros cada vez mais comuns em áreas outrora ocupadas por Mata Atlântica e hoje transformadas em habitats mais abertos. Embora não existam muitas informações quanto à tolerância a áreas alteradas, o lobo-guará também tem sido visto com maior freqüência, nos últimos anos, em terras cultivadas para agricultura e pastagens. Dietz (1984) cita que as áreas de descanso do animal durante o dia incluem florestas de galeria, o que não tem sido confirmado em outros estudos, que registram o repouso em áreas de cerrado e campo úmido (Bestelmeyer, 2000; Rodrigues, dados não publicados). Áreas agrícolas de cana-de-açúcar, soja, milho e café, bem como pastagens e campos antrópicos abandonados, podem ser utilizadas tanto para forragear quanto para descansar (Santos, 1999; Mantovani, 2001; Rodrigues, 2002; Rodrigues  et al., dados não publicados), mas em menor proporção do que em áreas preservadas, de qualidade ambiental superior (Paula, dados não publicados).  Chrysocyon brachyurus é uma espécie de hábito solitário, cujos indivíduos se juntam em casais apenas na época reprodutiva. O tamanho da área ocupada por casais é bem variável, ao longo de sua distribuição, variando de 6 a 115 km2(Dietz, 1984; Carvalho & Vasconcellos, 1995; Silveira, 1999; Rodrigues 2002; Paula & Rodrigues, dados não publicados), dependendo da qualidade de habitats disponíveis e da disponibilidade alimentar. O casal partilha a mesma área de vida (Dietz, 1984; Rodrigues, 2002;  Paula & Rodrigues, dados não publicados) e essa área pode ser exclusiva, com nenhuma ou pouca sobreposição entre áreas de casais vizinhos (Dietz, 1984; Paula & Rodrigues, dados não publicados), ou as áreas de casais vizinhos podem ter grandes sobreposições (Rodrigues, 2002). A estrutura de casais permite a participação do macho nas atividades de cuidado parental com os filhotes. A dieta é variada, consistindo principalmente de frutos e pequenos vertebrados. 

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA 

  Originalmente, a espécie se distribuía amplamente nas áreas de vegetação aberta do Cerrado, Chaco e Pampas. Ao sul, o limite ia até o extremo do Rio Grande do Sul. Na porção norte, a distribuição original do lobo-guará coincidia com os limites do Cerrado e da Caatinga e a leste do Cerrado com a Mata Atlântica. A oeste, o limite da espécie era o Pantanal. Atualmente, a distribuição sofreu reduções na porção sul da distribuição. No Rio Grande do Sul, a outrora ampla distribuição é agora residual, sendo confirmada apenas no sul do Estado, divisa com o Uruguai, e na região dos campos de cima da serra (F. Michalski, com. pess.; Indrusiak & Eizirik, 2003). No restante, a redução foi menos drástica e a espécie ainda ocorre na maior parte de sua área original. Por outro lado, a distribuição a leste (Estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro) tem-se expandido em regiões originalmente ocupadas por Mata Atlântica e que, com o desmatamento das florestas, se tornaram áreas abertas e capoeiras, ambiente mais apropriado para a ocorrência do lobo-guará (Dietz, 1984, 1985; Moreira et al., em prep.). Na região do Pantanal, o lobo-guará é comum nas partes altas da bacia do alto Paraguai, mas é raro na planície pantaneira (Coutinho et al., 1997; Rodrigues et al., 2002). Países de ocorrência: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai, Peru e Uruguai. 

  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

  Ocorre nas Unidades de Conservação de Proteção Integral listadas a seguir, além de várias outras de Uso Sustentável: PARNA Serra da Bodoquena, PE Nascentes do rio Taquari e PE Várzeas do rio Ivinhema (MS); PARNA da Chapada dos Guimarães, EE Serra das Araras e EE Pirapitinga (MT); PARNA de Brasília, Reserva Ecológica Roncador e EE Águas Emendadas (DF); PARNA da Chapada dos Veadeiros e PARNA das Emas (GO); PARNA do Araguaia, PARNA da Serra Geral do Tocantins, PARNA das Nascentes do rio Parnaíba, EE Serra Geral do Tocantins e PE do Jalapão (TO); PARNA da Serra da Canastra, PARNA da Serra do Cipó, PARNA das Cavernas do Peruaçu, PARNA Grande Sertão Veredas, REBIO Jaíba, PE do Ibitipoca, PE do Itacolomi, PE Grão Mongol, PE Serra das Araras, PE Serra do Rola-Moça, PE Serra Negra, PE Serra do Brigadeiro, PE Sagarana/Logradouro, PE Sagarana/Mata Seca, PE Veredas do Peruaçu, RPPN do Caraça e RPPN Galheiro (MG); PARNA Serra da Bocaina (SP/RJ); PARNA Itatiaia (RJ); PARNA de Ilha Grande, PARNA do Iguaçu, PE de Vila Velha, PE do Cerrado e PE do Guartelá (PR); PARNA São Joaquim (SC); EE Uruçuí-Una (PI); PARNA Aparados da Serra, PARNA Serra Geral, PE Itapuã e PE Caracol (RS); EE Jataí, EE Águas de Santa Bárbara, EE Itirapina, PE do Jataí, PE Vassununga e PE Rio Preto (SP); PE do Mirador (MA).

  • PRINCIPAIS AMEAÇAS

  Atualmente, o crescimento desordenado de centros urbanos e a conseqüente perda de hábitat têm resultado em processos negativos à conservação da espécie, mesmo que ela seja mais tolerante a algumas atividades antrópicas, como a agricultura (Paula, dados não publicados). A drástica redução de ambientesideais para a manutenção de populações tem sido apontada como o fator principal de redução de 
populações. Essa ameaça é ainda mais potencializada quando se observa que grande parte da área de ocorrência da espécie já está convertida em campos agricultáveis e em campos destinados à pecuária. Verifica-se, assim, grande número de animais vítimas de atropelamentos em várias regiões de sua área de ocorrência, na maioria jovens, provavelmente em fase de dispersão. Em algumas populações, estimase que os atropelamentos sejam responsáveis pela morte de um terço à metade da produção anual de filhotes (Rodrigues, 2002). Outro impacto, ainda que não atestado quanto à sua gravidade, é a contaminação epidemiológica de patógenos advindos do contato com animais domésticos, sobretudo onde a zona de contato é grande. Lobos-guará em cativeiro estão sujeitos a várias doenças transmitidas por cães, cujo impacto na natureza pode ser significativo. A mitificação da espécie como principal responsável pela predação de aves domésticas em comunidades rurais tem sido um motivo significante para a perseguição e abate deste animal, que ocorre em quantidades consideráveis em algumas localidades. Embora os estudos com dieta relatem um relativo baixo consumo de galinhas (Dietz, 1984; Motta-Júnior et al.,1996; Rodrigues, 2002), muitas reclamações são direcionadas ao Centro Nacional de Pesquisas para a Conservação dos Predadores Naturais (CENAP/IBAMA) sobre conflitos envolvendo esta espécie. No entanto, apenas oito ocorrências de predação em aves domésticas foram confirmadas em dois anos, sendo cinco em Minas Gerais e três no Estado de São Paulo (Paula, dados não publicados), corroborando a informação de baixa incidência de predação pela espécie. 

  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  Estratégias para a conservação do lobo-guará devem se embasar, obrigatoriamente, na proteção do hábitat natural. As populações estão cada vez mais ilhadas e é importante que existam algumas áreas grandes capazes de manter uma população viável e com possibilidade de conexão entre as áreas conservadas. Em situação de total isolamento, estima-se que apenas duas ou três Unidades de Conservação 
do Cerrado tenham área suficiente para manter populações de lobo-guará (500 mil ha, Rodrigues & Oliveira, 2006). Reintroduções não parecem ser efetivas como estratégia de conservação, já que, dentro da distribuição, ainda não existe área em boas condições ecológicas onde a espécie não esteja presente. Experiências prévias com translocação de indivíduos resultaram em insucesso em sua fixação no novo ambiente (Rodrigues, 2002). Para algumas populações que habitam áreas cortadas por estradas, a mitigação dos impactos causados por atropelamento é fundamental, sendo que a estratégia de redução de atropelamentos deve ser avaliada caso a caso. O controle de populações de cães domésticos e de sua higidez sanitária ao redor de Unidades de Conservação pode ser de grande valia na prevenção de mortalidade de lobos por doenças. A vacinação de cães domésticos das fazendas limítrofes ao Parque Nacional da Serra da Canastra vem sendo realizada, mas o sucesso desta estratégia ainda não foi avaliado.É fundamental a realização de trabalhos junto às populações humanas próximas às áreas de hábitat 
natural de lobos-guará, no sentido de orientar sobre as formas de diminuir o conflito entre as pessoas e esses animais, principalmente em relação à predação de aves domésticas.

  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO 

  Flavio Henrique Guimarães Rodrigues (UFMG e Instituto Pró-Carnívoros); Rogério Cunha de Paula (CENAP/IBAMA e Instituto Pró-Carnívoros); Julio Dalponte (UEMT); Anah Jácomo e Leandro Silveira (Fundo para Conservação da Onça Pintada); José Carlos Motta Junior e Diego Queirolo (USP); Cosette Xavier Barrabás (IBAMA); Joaquim Araújo Silva (Instituto Biotrópicos de Pesquisa em Vida Selvagem); Eleonore Setz (UNICAMP); Mônica Aragona (UnB); Eliana Santos e José Carlos Mantovani (INPE); Rodrigo Silva Pinto Jorge (USP); Marco Aurélio Lima Sábato (Pesquisador autônomo); Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte em parceria com a CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais.

Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

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