quinta-feira, outubro 27, 2011

Caiarara ka’apor

Cebus kaapori Queiroz, 1992

NOME POPULAR: Caiarara ka’apor; Caiarara; Cairara
SINONÍMIAS: Cebus capucinus; Cebus nigrivittatus kaaporum
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Primates
FAMÍLIA: Cebidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: PA (CR)
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): VU
Brasil (Biodiversitas, 2002): CR – A2cd

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

  Cebus kaapori, como os demais táxons do gênero, é um primata arbóreo de tamanho médio e hábitos generalistas. Apresenta cauda semipreênsil e possui polegares oponíveis, que lhe conferem grande capacidade de manipulação. O caiarara ka’apor é uma espécie do grupo “sem tufo” (subgênero Cebus sensu Silva Júnior, 2001), apresentando uma pelagem aguti, com coloração marrom-acinzentada nas partes superiores e nos dois terços proximais da cauda, e cinza-prateada na garganta, tórax, abdômen, espáduas, região frontal da parte próxima aos membros anteriores e do pincel caudal (Queiroz, 1992; Silva Júnior, 2001). Apesar das pequenas diferenças observadas nas tonalidades da coloração marromacinzentada das partes superiores, não existem amostras suficientes para uma descrição completa das variações cromáticas dentro do táxon, que é representado por apenas três espécimes, todos depositados no Museu Paraense Emílio Goeldi (Silva Júnior, 2001). A raridade natural do caiarara ka’apor tem sido reconhecida por todos os autores que trabalharam com a espécie no campo (Lopes, 1993; Lopes & Ferrari, 1993; Ferrari & Queiroz, 1994; Ferrari & Lopes, 1996; Lopes & Ferrari, 1996; Silva Júnior & Cerqueira, 1998; Carvalho Júnior et al., 1999; Carvalho Júnior, 2003) Uma revisão da literatura sobre mamíferos da Amazônia oriental produzida desde o início do século XVII indicou que, antes de sua descrição, em 1992, Cebus kaapori havia sido citado em uma única obra (Goeldi & Hagmann, 1906), sendo identificado como Cebus capucinus. Dados etnológicos indicaram que o caiarara ka’apor é utilizado como xerimbabo entre os índios Awa (Cormier, 2000), sendo amamentado no peito pelas mulheres lactantes e exercendo a função de “cão de guarda” das aldeias na idade adulta (H. L. de Queiroz, obs. pess.). Este táxon nunca foi alvo de um estudo ecológico ou comportamental específico de longo prazo. As informações disponíveis sobre o seu modo de vida ainda são escassas. C. kaapori parece ocorrer em baixas altitudes, tendo sido observado apenas em matas altas de terra firme (Lopes, 1993; Lopes & Ferrari, 1996; Silva Júnior & Cerqueira, 1998; Carvalho Júnior et al., 1999). A espécie ainda não foi avistada em florestas secundárias e em ambientes alagáveis ou de vegetação aberta. Os estudos já realizados mostram que os grupos são pequenos e que o táxon é pouco abundante (Lopes, 1993; Lopes & Ferrari, 1996; Silva Júnior & Cerqueira, 1998; Carvalho Júnior et al., 1999; Carvalho Júnior, 2003). As baixas densidades são atribuídas, em parte, à competição interespecífica com Cebus apella (Carvalho Júnior et al., 1999). Grande parte das observações indica a presença de indivíduos solitários e de associações relativamente freqüentes com Chiropotes satanas (Lopes, 1993; Silva Júnior & Cerqueira, 1998; Carvalho Júnior et al., 1999)

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA 

  Amazônia oriental, ao sul do rio Amazonas, no leste do Pará e oeste do Maranhão. Localidade-tipo: Garimpo Chega-Tudo, atual município de Nova Esperança, Maranhão (02º13’S; 46º53’W). Tipos no Museu Paraense Emílio Goeldi. A distribuição de C. kaapori ainda é mal conhecida. O limite oeste foi fixado na margem direita do rio Tocantins, mas os limites norte, leste e sul permanecem indeterminados. Não se sabe ainda se a distribuição da espécie se estende ao norte até a linha costeira. Por sua vez, o registro mais meridional é a fazenda Varig (04º39’S; 47º03’W), mas a espécie ainda não foi observada ao sul desta latitude. O registro mais oriental é Santa Luzia (03º58’S; 45º31’W), uma vez que o relato sobre a presença de C. kaapori próximo ao lago Açu (03º43’S; 44º58’W) ainda não foi confirmado. Os limites orientais e meridionais da área de distribuição original podem ter sido retraídos, em conseqüência do processo de transformação das paisagens locais. A área de ocorrência da espécie está completamente fragmentada, dada a grande atividade antrópica na Amazônia oriental. 
  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 

  REBIO Federal Gurupi, RESEX Estadual do Ciriaco, RESEX Estadual do Quilombo do Frechal, RESEX Estadual Mata Grande e RF Estadual de Buriticupu (MA); APA Estadual Lago de Tucuruí (PA). A REBIO Gurupi era a única Unidade de Conservação onde C. kaapori havia sido efetivamente observado. Recentemente, a espécie foi avistada na APA Lago de Tucuruí, na porção localizada na margem direita do rio Tocantins (M. A. Lopes, com. pess.). As demais Unidades de Conservação estão situadas dentro da área de distribuição conhecida, mas a presença da espécie ainda não foi observada em nenhuma delas.
  • PRINCIPAIS AMEAÇAS

  Cebus kaapori possui uma das menores áreas de distribuição geográfica entre as espécies do gênero Cebus. Essa área coincide com a região de ocupação humana mais antiga e mais intensa da Amazônia oriental. A maior ameaça ao caiarara ka’apor parece ser a perda e a fragmentação de seu hábitat. As atividades humanas na Amazônia oriental têm causado enorme devastação de áreas de florestas, com a presença de grandes centros urbanos, áreas de garimpo e grandes empreendimentos envolvendo exploração madeireira e atividades agropecuárias. A raridade natural da espécie, que já foi extinta em grande parte de sua área de distribuição original, constitui elemento agravante dessa situação. A paisagem remanescente está muito fragmentada, havendo continuidade do processo de desmatamento nos dias atuais. Assim como Chiropotes satanas e outras espécies de mamíferos da região, o caiarara ka’apor também pode estar sendo ameaçado por atividades de caça fácil, tendo em vista a maior facilidade de acesso às florestas e o desaparecimento de outras espécies cinegéticas. A continuidade na fragmentação de seu hábitat provavelmente aumentará essa fonte de pressão. 
  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  A principal necessidade em relação à conservação do caiarara ka’apor diz respeito à ampliação do conhecimento atual. É necessário compreender o modo de vida da espécie e os efeitos da fragmentação nas populações mediante estudos de longo prazo sobre sua ecologia e comportamento. Algumas providências imediatas devem ser tomadas, sobretudo a continuidade dos levantamentos sobre populações remanescentes e limites de distribuição. É importante também realizar investigações sobre a presença da espécie nas Unidades de Conservação situadas dentro de sua área de distribuição geográfica e é imprescindível que essas áreas sejam efetivamente protegidas, verificando-se também a possibilidade de estabelecimento de novas reservas, públicas e privadas. Da mesma forma que Chiropotes satanas, o caiarara ka’apor conta com uma única reserva federal no interior de sua área de distribuição, a Reserva Biológica Gurupi, que vem sofrendo degradação, dada a forte exploração madeireira dentro de seus limites. Existe urgência na produção de conhecimento sobre a biologia de C. kaapori, para que programas de educação ambiental possam ser implementados, ajudando a diminuir as pressões contra a sobrevivência da espécie. Esse conhecimento será fundamental para uma avaliação segura das possibilidades de conservação em longo prazo e para dar subsídios ao plano de manejo da espécie. Recentemente, uma espécie de caiarara, ainda não identificada foi observada na Área de Proteção Ambiental do Arquipélago de Marajó, na parte noroeste da ilha de Marajó. Existem 13 Unidades de Conservação no litoral do Pará e do Maranhão, sendo 11 estaduais (8 no Pará e 3 no Maranhão) e duas municipais (no Pará). São reservas de manguezais, com ilhas e áreas adjacentes de terra firme. Como o caiarara ka’apor nunca foi observado em manguezais, é preciso verificar a presença da espécie nessas Unidades de Conservação.
  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO 

  Helder Lima de Queiroz (IDSM); José de Sousa e Silva Júnior (MPEG); Leandro Jerusalinsky e Marcelo Marcelino de Oliveira (IBAMA); Maria Aparecida Lopes e Maria Lúcia Harada (UFPA); Oswaldo de Carvalho Júnior (IPAM); Stephen Francis Ferrari (UFS); Tadeu G. de Oliveira (UEMA e Instituto Pró-Carnívoros). MPEG; UFPA; IPAM; IBAMA/PB; UEMA. 
Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

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