terça-feira, outubro 04, 2011

Sagüi-da-serra-escuro


Callithrix aurita (Geoffroy in Humboldt, 1812)


NOME POPULAR: Sagüi-da-serra-escuro
SINONÍMIAS: Callithrix jacchus aurita
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Primates
FAMÍLIA: Callitrichidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: MG (CR); SP (EN); RJ (VU)
Anexos da CITES: Anexo I
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): EN
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – C2a(i)

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

Callithrix aurita é um sagüi de coloração que varia de tons pardacentos ao inteiramente negro, sendo bem mais escuro do que C. flaviceps. Apresenta uma conspícua máscara brancacenta na face, com a presença de tufos intra-auriculares de cor clara, semelhantes aos de  C.  flaviceps. Para Coimbra-Filho (1991), a inegável semelhança entre C. aurita e C.  flaviceps, em termos genéticos, fenotípicos, ecológicos e comportamentais, indica que C.  flaviceps poderia ser classificado como subespécie de C. aurita (Vivo, 1991; Mendes, 1997b). Mendes (1997b, 1997c) destaca que, de fato, há estreita relação filogenética entre as duas espécies, mas ambas possuem distinto padrão de vocalização e distribuições geográficas não sobrepostas e parapátricas, como as demais espécies do grupo. Melo (1999a) e Tabacow  et al. (2005) encontraram diversas localidades com indivíduos de fenótipo distinto, evidenciando a existência de extensa faixa de hibridação na natureza. Utilizando técnicas moleculares, Melo (1999a) confirma o padrão genético mesclado, com base em marcadores moleculares Random Amplified Polymorfic DNA (RAPD), de alguns indivíduos considerados híbridos, embora as formas sejam muitas vezes indistintas morfologicamente. Como todos os calitriquídeos, C. aurita é um insetívoro-frugívoro-gomívoro, incluindo em sua dieta até mesmo uma espécie de fungo encontrado em bambu (Corrêa, 1995). Vive em grupos familiares de 4 a 11 indivíduos, geralmente com uma fêmea reprodutiva, embora tenham sido observados casos de duas fêmeas reproduzindo no mesmo grupo (Corrêa et al., 2000). Poucas informações se encontram disponíveis a respeito da ecologia desse primata. Esta foi uma das espécies incluídas em um estudo sinecológico realizado por Torres de Assumpção (1983) na fazenda Barreiro Rico, em São Paulo, e em estudos de curta duração realizados por Muskin (1984a, 1984b) e Bueno (1989), enfocando a área de uso de um grupo num remanescente de floresta de 15ha, ambos na fazenda Monte Alegre, sul de Minas Gerais. Nesta mesma área, Martins (1998a, 1998b, 2000) desenvolveu um estudo de longa duração sobre ecologia e comportamento da espécie. Stallings & Robinson (1991) oferecem indicação de habitats e densidades relativas de primatas, incluindo C. aurita para o Parque Estadual do Rio Doce. Este sagüi foi observado em floresta primária e em mosaicos de floresta primária e secundária produzidos por incêndios parciais. Os registros variaram de 1 a 5 indivíduos, sendo a espécie pouco abundante em todos os locais onde foi observada. Os mais completos estudos ecológicos e etológicos de C. aurita foram realizados em 1992/1994  por Corrêa (1995) e Coutinho (1996), no Núcleo Cunha do Parque Estadual da Serra do Mar, em São Paulo. Lá foi estudado um grupo de 6 a 11 indivíduos, em uma floresta de altitude (1075-1200 m), predominantemente secundária, com abundância de bambus, hábitat típico da espécie (Olmos & Martuscelli, 1995). A área ocupada pelo grupo foi de 35,5 ha. Muskin (1984a, 1984b) registrou quatro grupos, sendo que um deles (com 6 a 8 indivíduos) utilizou uma área de 11 ha isolada de floresta. Observações sobre a composição da dieta foram realizadas por Muskin (1984a) e Corrêa (1995). Martins (2000) destaca o comportamento oportunista da espécie, ao descrever um grupo de C. aurita alimentando-se de presas afugentadas por formigas de correição. Martins & Setz (2000) detalham a dieta deste mesmo grupo (quatro indivíduos), evidenciando ampla gama de espécies arbóreas utilizadas pelos sagüis, por produzirem exsudados (50,5% dos itens alimentares foram representados por gomas ingeridas), além de presas animais (38,5%). Lima & Melo (2003) citam mais sete fragmentos florestais, pertencentes a particulares, onde a espécie subsiste no norte do Estado do Rio de Janeiro, divisa com Minas Gerais, muitos deles menores que 100 ha e localizados em altitudes inferiores a 400 m acima do nível do mar. Da mesma forma, Oliveira et al. (1999) citam mais cinco áreas de reflorestamento mescladas com mata nativa, no Estado de São Paulo. Parece que C. aurita tem tido relativa facilidade em ocupar áreas pequenas e em estágios diversos de sucessão, mostrando razoável plasticidade ambiental, não esperada para a espécie, conforme estudos prévios (Coimbra-Filho, 1991; Stallings & Robinson, 1991).

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA 

Provável imagem da espécie
C. aurita ocorre em diversas tipologias florestais dentro do bioma Mata Atlântica, situadas nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, prevalecendo as áreas de floresta estacional semidecidual dos vales Paraíba do Sul (ao norte) e rio Doce e de floresta ombrófila densa mais ao sul da sua área de distribuição geográfica, especialmente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, na serra do Mar (Coimbra-Filho, 1991; Rylands et al., 1996; Mendes, 1997b). O seu limite norte de distribuição geográfica parece ser o rio Piracicaba, em Minas Gerais, na sua foz com o rio Doce. A oeste, parece ocorrer até os limites do Espinhaço, em Minas Gerais, e nas áreas de transição com o Cerrado, em São Paulo. A leste, no Rio de Janeiro, a espécie de fato se limita às partes superiores das encostas da serra do Mar, com exceção do sul do Estado, onde C. aurita pode ser encontrado quase ao nível do mar. Ao norte da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), a espécie volta a ocorrer em áreas de meia encosta, muitas vezes inferiores a 300 m de altitude (Melo et al., 2005). Seu limite sul é ainda uma incógnita, pois o grande maciço de Paranapiacaba, em São Paulo, pode abrigar populações relictuais, como ocorre com Leontopithecus chrysopygus (Lima et al., 2003). Aparentemente, sua distribuição avança pela margem sul do rio Tietê, sem definição exata de seu limite, que parece ser mais ecológico do que meramente geográfico (Hershkovitz, 1977; Mendes, 1997b). A espécie é encontrada em áreas com ampla variação altitudinal (de 80 a 1.350 m acima do nível do mar), mostrando grande amplitude de ocupação de habitats, a despeito de seu nome vulgar, que é sagüi-da-serra-escuro (Brandão & Develey, 1998).

  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 

PE da Serra do Brigadeiro, PE do Rio Doce, RPPN Fazenda Lagoa e RPPN Marcos Vidigal Vasconcelos (MG); PARNA da Serra dos Órgãos, PARNA da Serra da Bocaina (RJ); PE da Serra do Mar (diversos núcleos), PE da Serra da Cantareira, EE de Mogi-Guaçu, REBIO Estadual de Mogi-Guaçu, RPPN Fazenda Barreiro Rico e EE de Bananal (SP).

  • PRINCIPAIS AMEAÇAS

  A evidente raridade de C. aurita e a destruição, em grande escala, das florestas inclusas em sua área de distribuição, especialmente ao longo do rio Paraíba, explicam a sua inserção na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. As ameaças provêm da destruição das florestas primárias e da dificuldade da espécie em se adaptar a florestas secundárias degradadas, além da introdução de espécies exóticas de sagüi, como C. jacchus e C. penicillata, que, além de serem competidoras de C. aurita, hibridizam com esta espécie, descaracterizando-a geneticamente (Morais Jr., 2005). Em Rio Novo (MG), F. R. Melo identificou um grupo aparentemente híbrido entre C. penicillata e C. aurita, em que os indivíduos capturados apresentavam caracteres mesclados entre ambas as espécies. No Parque Estadual do Rio Doce, a introdução acidental de C. penicillata tem permitido nítida miscigenação entre esta espécie e C. aurita e C. geoffroyi, outra espécie nativa do Parque.

  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  Recomendam-se as seguintes medidas: proteção de hábitat, com a criação de novas Unidades de Conservação, especialmente Reservas Particulares do Patrimônio Natural; educação ambiental; estudos mais aprofundados sobre taxonomia e distribuição geográfica, buscando determinar, de forma mais precisa, o status específico do táxon; treinamento de policiais militares ambientais, evitando a soltura inadequada de animais exóticos; programa de criação em cativeiro; estudos aprofundados sobre ecologia e comportamento de outros grupos de sagüis, permitindo comparar com os estudos já realizados.

  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO

  Stephen Ferrari (UFPA) auxiliou na formação de pesquisadores na década passada e realizou estudos específicos sobre  C.  flaviceps. Sérgio Lucena Mendes (UFES), além de ter realizado ampla análise sobre a distribuição geográfica de Callithrix spp., mantém equipes em campo buscando novas áreas de ocorrência da espécie. Milene Martins, junto com Eleonore Setz (UNICAMP), conduziu estudos sobre C. aurita no Estado de São Paulo. Fabiano Rodrigues de Melo (UFG), após estudo sobre áreas de hibridação entre C. aurita e C. flaviceps, realiza inventários de mastofauna nos limites de distribuição de C. aurita.

Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

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