NOME POPULAR: Peixe-boi-da-Amazônia
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Sirenia
FAMÍLIA: Trichechidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: PA (EN)
Anexos da CITES: Anexo I
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): VU
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – A2c
- INFORMAÇÕES GERAIS
Trichechus inunguis, maior herbívoro de água doce sul-americano, é endêmico da bacia Amazônica. Pouco se conhece sobre a sua ecologia, dada a turbidez das águas onde ocorre e por ser um animal de hábitos muito discretos, tornando-se difícil observá-lo no ambiente natural (Best, 1984; da Silva, 2004; Rosas, 1994). No estuário do rio Amazonas, é simpátrico com a espécie marinha T. manatus (Domning, 1981) e prefere águas com temperaturas acima de 23°C. Ocorre nos sistemas de rios de águas brancas, pretas e claras e permanece em áreas de várzea durante a cheia, migrando para lagos perenes e canais de rios durante a vazante. Alimenta-se de macrófitas aquáticas, raízes e vegetação de áreas alagadas. Funciona como verdadeiro adubador do ambiente aquático, reduzindo a biomassa verde flutuante em
partículas menores e micronutrientes, favorecendo toda a cadeia trófica (Best, 1981; Junk & da Silva, 1997). O ciclo sazonal de cheias e vazantes no sistema de drenagem da Amazônia tem profundo efeito em sua biologia, regulando a sua alimentação e reprodução. O pico de nascimentos ocorre no início da cheia, período em que o alimento é mais abundante, assegurando às fêmeas o restabelecimento das condições fisiológicas da gestação e lactação (Best, 1982; 1983; Junk & da Silva, 1997). A gestação é de aproximadamente 12 meses, sugerindo uma sincronização do estro das fêmeas com a maior disponibilidade de alimento (Best, 1982; 1983; Nascimento et al., 2003). As fêmeas atingem a maturidade sexual após os seis anos de idade e, normalmente, geram um filhote a cada gestação, amamentando-o
por no mínimo dois anos (Rodrigues, 2002; Rosas & Pimentel, 2001). O intervalo entre nascimentos é de pelo menos três anos, o que revela baixa taxa reprodutiva, dificultando ainda mais a recuperação das populações (Best, 1982; da Silva, 2004). Registros de caça existem desde 1545, quando a espécie já era utilizada como alimento pelos índios. Entre as décadas de 1940-50, o peixe-boi foi intensiva e indiscriminadamente caçado por causa de sua carne, consumida pela população local e exportada para outras regiões do Brasil, e pelo seu couro, utilizado para a confecção de correias de máquinas, polias, tabiques e cola (Best, 1984; Domning, 1982). Após mais de 200 anos de intensa exploração, apesar da grande redução populacional, análises de DNA mitocondrial revelaram que T. inunguis vem mantendo
uma variabilidade genética relativamente alta, mostrando uma expansão populacional que pode ser um indicativo de recuperação da espécie nos últimos 30-40 anos, desde a promulgação da Lei de Proteção à Fauna de 1967 (Cantanhede et al., 2005).
- DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Não se conhece a extensão original da espécie na Amazônia nem as áreas onde poderia ter sido extinta. Mesmo tendo sido explorada maciçamente desde o Brasil pré-colonial, acredita-se que a espécie ainda ocorra na maior parte da sua distribuição original, embora em números bastante reduzidos. Ocorre praticamente em todas as bacias dos principais rios da Amazônia, estando limitada por grandes corredeiras e cachoeiras.
- PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
PARNA do Jaú, REBIO do Abufari, REBIO do Uatumã, EE de Anavilhanas, EE Juami-Japurá, Reserva Ecológica Sauim-Castanheira, Reserva Ecológica Jutaí-Solimões, RESEX Rio Jutaí, RESEX médio Juruá, RESEX baixo Juruá, FLONA Pau Rosa, FLONA Jatuarana, RESEX Catuá- Ipixuna, FLONA Humaitá, REDES Cujubim, PE Nhamundá, PE Rio Negro, FLONA Mapiá-Unauiní, FLONA do Purus, REDES Mamirauá, REDES Amanã, REDES Piagaçu-Purus, REDES do Lago Tupé, APA Lago Ayapuá, APA Parintins Nhamundá, APA Margem direita e esquerda do Rio Negro, REDES Cujubim (AM); FLONA Saracataquera, FLONA Caxiuanã, FLONA Altamira, FLONA Tapajós, FLONA Mulata, PE Monte Alegre, PARNA da Amazônia, REBIO do R.Trombetas, EE do Jari, APA Arquipélago do Marajó
(PA); RESEX Cajari, REBIO do Lago Piratuba, APA do Curiaú, REBIO de Fazendinha (AP); EE de Maracá, EE Caracarai, PARNA do Viruá, EE Niquiá, RESEX Rio Preto Jacundá, EE Cuniã, FLONA de Humaitá (RR).
- PRINCIPAIS AMEAÇAS
A principal causa de sua redução populacional foi a caça indiscriminada desde o Brasil pré-colonial, tendo como apogeu a Revolução Industrial, quando seu couro passou a ser utilizado na confecção de correias e polias para maquinários. Durante os anos de 1935 e 1954, entre 80 mil e 140 mil peixes-boi foram abatidos em adição à caça de subsistência (Best, 1984; Domning, 1982). Apesar das medidas de proteção adotadas em 1967 e 1973, a caça de subsistência e o comércio ilegal ainda persistem (Best, 1982; 1984; Rosas 1994; da Silva, 2004). Filhotes são bastante vulneráveis a redes de espera, enquanto as fêmeas prenhes e com cria são mais vulneráveis e preferencialmente caçadas por estarem mais gordas. Como são herbívoros e se alimentam principalmente de macrófitas aquáticas, na superfície e à
meia-água, são afetados diretamente por poluentes organoclorados, hidrocarbonetos e metais pesados provenientes de resíduos agrícolas, de vazamento de petróleo e seus derivados e da exploração de ouro, que são absorvidos pelas macrófitas aquáticas, como Eichhornia sp, entre outras, importantes itens da sua dieta. É bastante sensível a ruídos e tráfego de barcos e depende das áreas de várzea para sua alimentação e reprodução durante os períodos de enchente e cheia. Essas áreas são intensamente utilizadas pelas populações ribeirinhas para agricultura, caça e pesca, afetando diretamente a espécie pelas pressões e alterações no ambiente aquático e em suas margens.
- ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO
A conservação do peixe-boi depende de medidas que reduzam a degradação ambiental e preservem seus habitats naturais. Por ser uma espécie migratória, é necessário que as Unidades de Conservação englobem as regiões de várzea (onde a espécie passa o período de enchente e cheia) e os lagos perenes, poços e “boiadouros” nos canais de rios (onde o peixe-boi permanece durante a vazante e seca), além de suas rotas migratórias. Para isso, é necessário estabelecer, com maior precisão, suas áreas de uso e rotas migratórias. Como o consumo de sua carne faz parte da cultura amazônica, é preciso implantar amplo programa de conscientização e educação ambiental, com ênfase naquelas localidades onde a pressão de
caça ainda é intensa, visando reduzir o número de abates anuais. Programas de resgate e reabilitação de filhotes órfãos e sua posterior reintrodução em áreas protegidas devem ser continuados, bem como pesquisas sobre a sua história natural e ecologia.
- ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO
O INPA desenvolve, há mais de 30 anos, pesquisas sobre o peixe-boi da Amazônia em cativeiro. Em 1998, ocorreu o primeiro registro de concepção e nascimento dessa espécie em cativeiro (da Silva et al., 1998) e, desde então, outros cinco filhotes foram gerados e nascidos nos tanques do Parque Aquático Robin Best, no Laboratório de Mamíferos Aquáticos do INPA. Em Abril de 2005, outro nascimento ocorreu, pela primeira vez, no CPPMA, em Balbina (AM), onde são desenvolvidas atividades de resgate e reabilitação de filhotes e educação ambiental. O IDSM vem trabalhando com estudos de conservação e movimentos migratórios utilizando rádiotelemetria.
Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
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