Bradypus torquatus Illiger, 1811
NOME POPULAR: Preguiça-de-coleira; Preguiça; Bicho-preguiça
SINONÍMIAS: Bradypus crinitus; B. cristatus; Bradypus (Scaeopus) torquatus
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Pilosa
FAMÍLIA: Bradypodidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: RJ (EN); ES (EN)
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): EN
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – A2cd
- INFORMAÇÕES GERAIS
Bradypus torquatus é uma espécie endêmica da Mata Atlântica brasileira. Caracteriza-se por uma pelagem espessa de cor castanho-claro, uniforme por todo o corpo, sem distinção entre o dorso e o abdome, e uma coleira de pêlos longos e pretos ao redor do pescoço, geralmente mais longa e nítida na região mediana do dorso. Nos indivíduos adultos (acima de 4 anos), a coleira preta é maior e mais negra nos machos do que nas fêmeas (Lara-Ruiz & Chiarello, 2005). Como as demais espécies congenéricas de preguiças, B. torquatus possui hábito arborícola restrito, baixo metabolismo e dieta estritamente folívora, composta por espécies de árvores e cipós – pouco mais de 30 espécies foram até agora identificadas, sendo que cada indivíduo consome cerca de 15 a 20 espécies/ano (Chiarello, 1998b; Chiarello et al., 2004). Esta é a maior e mais pesada das preguiças do gênero, podendo atingir 10 kg de massa corpórea, sendo que as fêmeas são mais pesadas do que os machos (Lara-Ruiz & Chiarello, 2005). Pouco se sabe sobre sua estrutura social e demografia. Sabe-se, porém, que os indivíduos vivem solitariamente em áreas de vida que raramente excedem a 10 hectares, mas muitas vezes são menores que isso, de 1 a 2 hectares por preguiça (Chiarello et al., 2004). Pelo menos entre as fêmeas, as áreas de vida têm pouca sobreposição com a de indivíduos vizinhos. As fêmeas produzem apenas um filhote por ano, que atinge a independência por volta dos 8 a 10 meses de vida, quando abandona a área da mãe para se estabelecer em outro local da floresta. É justamente nessa fase que os indivíduos são aparentemente mais atacados por felinos e outros predadores, pois são pequenos e inexperientes, descendo ao chão com freqüência durante as movimentações pela mata (Chiarello, obs. pess.). Bradypus torquatus é encontrada em matas primárias, mas também é capaz de sobreviver e até mesmo atingir altas densidades populacionais em matas secundárias. Habita tanto florestas localizadas ao nível do mar (sul da Bahia, centro-norte do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro) como florestas baixo-montanas (600-900 m de altitude). Até o momento, não foi encontrada acima dos 1.000 m (região serrana do Espírito Santo). Parece preferir as matas ombrófilas densas; ainda não foi encontrada em florestas semidecíduas ou decíduas. A literatura cita a possibilidade de simpatria com a preguiça-comum (B. variegatus), mas isso ainda não pode ser confirmado.
- DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Originalmente restrita à região de Mata Atlântica do sul de Sergipe (Estância) ao centro-norte do Rio de Janeiro (Macaé, Silva Jardim e Rio das Ostras), passando pela Bahia (Recôncavo Baiano, Ilhéus, Itabuna, até o extremo sul), pelo Espírito Santo (região serrana e litorânea do centro-sul do Estado, ao sul do rio Doce apenas) e provavelmente extremo nordeste de Minas Gerais (médio Jequitinhonha, na divisa com Bahia, município de Bandeira). Há relatos não confirmados de possível ocorrência pretérita do norte de Sergipe até Pernambuco (Olivério Pinto, em Wied-Newied, 1956). Bahia: municípios de Ipiaú, Ubaitaba, Itabuna, Buerarema, Una, Arataca, Santa Luzia, Canavieiras, Belmonte, Santa Cruz de Cabrália, Porto Seguro, Prado, Caravelas, Nova Viçosa, Teixeira de Freitas. Espírito Santo: municípios de Linhares, Bebedouro, Regência, Aracruz, Santa Teresa, Domingos Martins, Santa Maria de Jetibá, Itarana. Rio de Janeiro: São João da Barra (exemplar de museu), Santa Maria Magdalena, Cantagalo, Macaé, Friburgo, Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Magé, Ilha Brussai e região de Búzios (Rio das Ostras).
- PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Estação Experimental de Canavieiras (relato), EE de Wenceslau Guimarães (observado), REBIO de Una (observado), RPPN Ecoparque de Una (observado), PE da Serra do Conduru (relato), RPPN Serra do Teimoso (relato), (BA); FLONA de Goytacazes (observado), REBIO de Comboios (observado), REBIO Augusto Ruschi (observado), Estação Biológica de Santa Lúcia (observado), PM Natural de São Lourenço (observado), REBIO Estadual de Duas Bocas (observado) (ES); REBIO de União (observado), REBIO de Poço das Antas (observado) (RJ).
- PRINCIPAIS AMEAÇAS
Perda, descaracterização e fragmentação de habitats são as principais ameaças. A Mata Atlântica remanescente na região de ocorrência da espécie foi drasticamente reduzida e está muito perturbada. Além disso, os fragmentos remanescentes são, em sua maioria, de pequena área e isolados. Embora a espécie possa sobreviver em matas secundárias, o isolamento de pequenas populações pode acarretar drástica redução do fluxo gênico, uma vez que a espécie tem movimentos lentos e mostra grande dificuldade em se deslocar por paisagens desflorestadas. Em médio e longo prazo, pequenas populações isoladas estarão sujeitas a efeitos deletérios da consanguinidade e de redução da diversidade genética, comprometendo a sua capacidade adaptativa. Outros fatores decorrentes da fragmentação são o aumento da incidência de incêndios em Unidades de Conservação e o aumento da malha viária e do fluxo de tráfego. Um fator secundário é a caça, visto que em algumas regiões, particularmente no sul da Bahia, as preguiças podem eventualmente ser apanhadas para venda ou consumo.
- ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO
Obviamente, as preguiças só podem existir onde existem matas. Assim, antes de tudo, será preciso impedir, de maneira efetiva, que o corte raso, a exploração seletiva de madeiras e a incidência de incêndios continuem a ocorrer de maneira generalizada, particularmente em áreas privadas. Estudos recentes (Lara-Ruiz, 2004; Lara-Ruiz & Chiarello, 2005) indicam que as maiores populações remanescentes da espécie, localizadas no sul da Bahia (Ilhéus), centro-sul do Espírito Santo (Santa Teresa) e norte do Rio de Janeiro (Silva Jardim), apresentam diversidade genética reduzida e se encontram geneticamente isoladas umas das outras. Por esse motivo, a estratégia que melhor resultaria em benefícios para a conservação da espécie seria promover o aumento da conexão entre fragmentos, visando a restauração do fluxo gênico, pelo menos em nível regional, o que possibilitaria que populações isoladas constituíssem meta populações de fato. A translocação de indivíduos também poderá ser implementada, em alguns casos, para impedir o declínio da diversidade genética, mas essa estratégia deverá obedecer a critérios cientificamente embasados. Como as populações da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro têm composição genética própria (Lara-Ruiz, 2004), os locais de captura e soltura devem ser próximos e semelhantes do ponto de vista florístico e climático (a mistura de indivíduos de diferentes Estados deve ser evitada). Uma análise da viabilidade populacional da espécie está sendo desenvolvida para a região serrana do Espírito Santo, mediante projeto financiado pelo Segundo Edital do Programa de Espécies Ameaçadas da Fundação Biodiversitas/CEPAN, coordenado por A.G. Chiarello, em parceria com Valor Natural, PUC - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular).
- ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO
Adriano G. Chiarello (PUC/MG) - Pela Valor Natural, o pesquisador também desenvolve projeto com a espécie mediante financiamento do Programa de Proteção às Espécies Ameaçadas de Extinção da Mata Atlântica Brasileira, coordenado em parceria pela Fundação Biodiversitas e CEPAN. Paula Lara Ruiz e Fabrício R. dos Santos (LBEM/UFMG); Nádia Moraes (USP); Camila Cassano (UESC); Vera Lúcia de Oliveira (CEPLAC); Sérgio Lucena Mendes (UFES).
Fonte: LIVRO VERMELHO DA FAUNA BRASILEIRA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO
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