sábado, julho 30, 2011

Tamanduá-bandeira

Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758

NOME POPULAR: Tamanduá-bandeira; Tamanduá-cavalo;  Tamanduá-açu; Jurumim
SINONÍMIAS: Myrmecophaga artata; Myrmecophaga centralis;  Myrmecophaga jubata
FILO: Chordata
CLASSE: Mammalia
ORDEM: Pilosa
FAMÍLIA: Myrmecophagidae
STATUS DE AMEAÇA
Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaçada
Estados Brasileiros: MG (EN); PR (CR); SP (EN);  RJ (PEx); ES (PEx); RS (CR); PA (VU)
Anexos da CITES: Anexo II
CATEGORIAS RECOMENDADAS
Mundial (IUCN, 2007): não consta
Brasil (Biodiversitas, 2002): VU – A2cd

  • INFORMAÇÕES GERAIS 

  Myrmecophaga tridactyla é o maior representante da família Myrmecophagidae, atingindo até 2,20 m no comprimento total e chegando a pesar mais de 45 kg (Silveira, 1969). É facilmente reconhecido por seu tamanho, pela coloração distintiva da pelagem, com uma faixa diagonal preta de bordas brancas, pelo focinho longo e cilíndrico e cauda grande, com pêlos grossos e compridos (Nowak & Paradiso, 1983; Eisenberg & Redford, 1999). A espécie apresenta uma série de adaptações para a sua alimentação, constituída de formigas e cupins. Possui crânio alongado, língua longa e extensível, ausência de dentes e garras dianteiras grandes, utilizadas na abertura de cupinzeiros e formigueiros e, quando necessário, 
para a defesa. A procura de presas é feita pelo olfato e a permanência no sítio de alimentação é curta, variando de poucos segundos até cerca de três minutos (Drumond, 1992). Portanto, o tamanduá-bandeira visita vários cupinzeiros e formigueiros para atingir o seu consumo diário, que pode chegar até 30.000 formigas e/ou cupins (Nowak & Paradiso, 1983). Geralmente, a atividade de forrageio da espécie é realizada no chão, mas o tamanduá-bandeira tem certa habilidade para subir em árvores e cupinzeiros altos (Young  et al., 2003). Os demais membros da família Myrmecophagidae, os outros tamanduás (Tamandua tetradactyla e T. mexicana) e o tamanduaí (Cyclopes didactylus) possuem adaptações para a vida arborícola, como a presença de cauda preênsil, e.g. Os tamanduás-bandeira toleram ampla variedade de habitats, desde campos limpos, cerrados, florestas, até campos com plantações (Miranda, 
2004) a diferentes altitudes. Podem ter atividade ao longo do dia e da noite, dependendo da temperatura e da chuva (Eisenberg & Redford, 1999; Camilo-Alves & Mourão, 2006). Embora se associe muito ao Cerrado e aos Campos Limpos, no Pantanal da Nhecolândia, ambientes florestais são utilizados pela espécie para repouso e abrigo durante as horas mais quentes do dia, enquanto os Campos Limpos são utilizados durante as horas de temperatura mais amena, para as atividades de alimentação (Medri, 2002; Camilo-Alves, 2003; Medri & Mourão, 2005a; Camilo-Alves & Mourão, 2006). A espécie, assim como os demais edentados, apresenta baixo nível basal de metabolismo, quando comparada com a maioria dos outros mamíferos de mesmo porte, o que pode ser explicado pela dieta dos tamanduás-bandeira, que 
tem pobre teor nutricional (McNab, 1984). Em razão do baixo metabolismo, o tamanduá-bandeira pode apresentar dificuldades na regulação da temperatura corporal. Isso sugere uma explicação para a presença de pelagem densa, mesmo nos trópicos (Shaw & Carter, 1980). Quando esses animais dormem, normalmente deitam-se de lado, numa cavidade rasa, feita no solo com suas garras, e colocam a cauda sobre o corpo, que funciona como um isolante térmico e também auxilia na camuflagem do animal (Shaw & Carter, 1980). Entretanto, em manhãs frias, os tamanduás-bandeira podem preferir não cobrir o corpo com a cauda quando estão descansando em habitats abertos, expondo-se, assim, ao calor dos raios do sol (Medri & Mourão, 2005b). Durante o ato de amamentação, a mãe deita-se de lado e cobre a si mesma e ao filhote com a cauda (Michael P. Flint, com. pess.). O único par de mamas localiza-se logo abaixo das axilas. O período de gestação descrito para a espécie é em média de 183 a190 dias e geralmente nasce apenas um filhote por vez (Eisenberg & Redford, 1999), embora já tenha sido registrado o nascimento de gêmeos em zoológicos. A mãe carrega o filhote no dorso por cerca de seis a nove meses (Eisenberg & Redford, 1999) e este, quando mais crescido, pode descer do dorso da mãe para forragear formigas e cupins. O intervalo entre os nascimentos pode atingir nove meses (Eisenberg & Redford ,1999). Em cativeiro, o tempo de vida registrado foi de 25 anos (Nowak & Paradiso, 1983), mas não existe informação para animais de vida livre. Não há dimorfismo sexual evidente na espécie. A genitália dos machos é localizada internamente e, portanto, a discriminação do sexo só pode ser feita por inspeção detalhada. Ambos os sexos apresentam abertura urogenital logo abaixo do ânus. Pelo manuseio, pode-se saber quando se trata de um macho, cuja abertura mede aproximadamente 1 cm, ou de uma fêmea, que tem abertura de até 3 cm. A espécie é solitária, à exceção da mãe com seu filhote, durante o período de amamentação, e da época de reprodução, quando podem ser formados casais. Pouco se sabe sobre a reprodução da espécie em vida livre. 

  • DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA 

  A distribuição geográfica conhecida do tamanduá-bandeira vai desde o sul de Belize e Guatemala, na  América Central, até a América do Sul. Abrange áreas como oeste dos Andes, noroeste do Equador, leste andino, Colômbia, sul da Venezuela, sudeste da Bolívia, oeste do Paraguai, noroeste da Argentina, leste do Uruguai e Brasil (Wetzel, 1982, 1985). Atualmente, a espécie está provavelmente extinta no Uruguai (Eisenberg & Redford, 1999). Em 1996, houve o primeiro registro de sua ocorrência em Honduras, na América Central (McCain, 2001). Originalmente, ocorria em todos os Estados brasileiros, mas atualmente está extinta nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo e em declínio populacional nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil.

  • PRESENÇA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 

PARNA da Amazônia e REBIO do rio Trombetas (PA); PARNA do Araguaia e PE do Cantão (TO); PARNA de Brasília, Reserva Ecológica do IBGE e EE de Águas Emendadas (DF); PARNA do Cabo Orange, EE do Jari e EE de Maracá-Jipioca (AP); PARNA da Chapada Diamantina e REBIO de Una (BA); PARNA da Chapada dos Guimarães, PARNA do Pantanal Mato-grossense, RPPN da Estância Ecológica SESC-Pantanal e EE Serra das Araras (MT); PARNA da Chapada dos Veadeiros e PARNA das Emas (GO); PARNA Grande Sertão Veredas, PARNA das Sempre-Vivas, PARNA da Serra da Canastra, PE do Rio Preto, RPPN Reserva do Jacob, RPPN Galheiros, EE do Panga e EE de Pirapitinga (MG); PARNA do Iguaçu, PARNA de Ilha Grande, PE do Cerrado e PE do Guartelá (PR); PARNA das Nascentes do rio Parnaíba (BA/MA/PI/TO); PARNA de Pacaás Novos (RO); PARNA da Serra da 
Bodoquena e RPPN da Fazenda Rio Negro (MS); PARNA da Serra da Capivara, PARNA da Serra das Confusões e EE de Uruçuí-Una (PI); PARNA da Serra do Divisor (AC); EE de Angatuba, EE de Jataí e EE de Paranapanema (SP); EE Serra Geral do Tocantins (TO/BA). Observação: para muitas Unidades de Conservação ainda não há estudos sobre a composição da fauna, considerando que, a ocorrência da espécie pode ser maior do que a listada aqui, dada a sua ampla distribuição original.

  • PRINCIPAIS AMEAÇAS

  A deterioração e redução de habitats são apontadas como as principais causas de declínio das populações de tamanduá-bandeira (Fonseca  et al., 1999). Em regiões onde as temperaturas excedem  a ampla gama de neutralidade térmica do tamanduá-bandeira, que vai de 15 a 36 °C (McNab, 1984), a espécie necessita da disponibilidade de habitats arbóreos para proteger-se do calor ou do frio excessivo (Camilo-Alves & Mourão, 2006). Outros fatores que contribuem para a rarefação das populações desta espécie são a caça (Leeuwenberg, 1997; Peres, 2000) e os atropelamentos rodoviários (Fischer, 1997). Os incêndios florestais são também extremamente prejudiciais às populações de tamanduá-bandeira. A espécie é muito suscetível ao fogo, por ter deslocamento vagaroso e pelagem inflamável (Silveira 
et al., 1999). 

  • ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

  A etapa inicial para a conservação do tamanduá-bandeira deve enfocar a realização de estudos sobre a situação atual e a biologia da espécie em sua área de distribuição. Dados como densidade populacional, população mínima viável, análise genética das populações, tamanho da área de vida, dieta e utilização de habitats são fundamentais para o entendimento dos requisitos ecológicos da espécie. É importante haver troca de informações entre os pesquisadores de campo e os de cativeiro, para o planejamento de ações adequadas à conservação da espécie in situ e ex situ. As áreas mais representativas para as populações de tamanduás-bandeira devem ser mais intensamente conservadas com a criação de novas 
Unidades de Conservação ou a preservação daquelas que já existem. Além disso, será preciso efetivar a conexão dessas áreas pela implantação de corredores ecológicos. A manutenção de manchas de florestas e de cerradões em áreas de uso agropecuário e o controle da caça nessas áreas podem favorecer populações locais de tamanduás-bandeira. Programas de educação ambiental, enfatizando a sobrevivência da espécie, devem ser implantados nas áreas de sua ocorrência, especialmente ao longo das rodovias, para minimizar os atropelamentos desses animais. Em especial, nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tais programas deveriam desmistificar a crendice popular que associa o tamanduá-bandeira à má 
sorte. Nas áreas onde ocorre caça de subsistência sobre a espécie, é necessário implantar alternativas de desenvolvimento sustentável para a comunidade humana local. Planos de manejo de incêndios devem ser feitos nas áreas em que esses eventos são comuns. 

  • ESPECIALISTAS/NÚCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO 

Guilherme Mourão (Embrapa Pantanal); Guilherme Henrique Braga de Miranda (INC/DITEC/DPF); Ísis Meri Medri (UnB);  Flávio Henrique Guimarães Rodrigues (UFMG e Instituto Pró-carnívoros); Robert John Young (PUC/MG); e Constança de Sampaio e Paiva Camilo-Alves (UFMS). 

Fonte: Livro Vermelho de Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

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